Você sabe calcular o custo da dívida de uma empresa?

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O custo de capital é um ponto crucial na análise de qualquer empresa. As companhias possuem duas formas de se financiar: via dívida ou via ações (equity). Nesse artigo vamos abordar o cálculo do custo da dívida.

O custo da dívida é o custo que a empresa enfrenta quando capta recursos via dívida, que pode ser desde empréstimos bancários até debêntures e bonds. Para calcular esse custo existem três abordagens comuns: (1) abordagem do Yield to Maturity, (2) abordagem do rating da dívida e (3) método usual.

Abordagem do Yield to Maturity

Semana passada escrevemos um post sobre como calcular o Yield to Maturity. Essa abordagem de cálculo do custo da dívida consiste basicamente em calcular o YTM da dívida da empresa e ajustar pelo benefício fiscal da dívida. Por exemplo, imagine que a empresa tenha apenas uma debênture que está negociando a um YTM de 10%. Imagine também que a alíquota marginal de imposto da companhia é 34%. Nesse caso, o custo da dívida depois dos impostos da empresa será de 10%*(1-34%) = 6,6%. Repare que o custo da dívida é menor do que o YTM. Isso acontece porque a empresa paga menos imposto devido ao impacto em seu resultado financeiro (pagamento de juros, que reduz o lucro tributável).

Abordagem do rating da dívida

Nem sempre os instrumentos de dívida de uma empresa é negociado a mercado de forma que seja possível calcular seu YTM. Nesse caso, utiliza-se a abordagem do rating da dívida. Essa abordagem consistem em achar um instrumento de dívida de uma empresa com risco similar que tenha o mesmo rating da dívida da empresa que está sendo avaliada. Por exemplo, se você estiver avaliando uma empresa com rating AAA mas não consegue calcular o YTM de sua dívida, mas sabe que outra empresa similar com rating AAA negocia a 7%, então você pode considerar os 7% de custo de dívida antes do benefício fiscal como sua melhor estimativa. Depois, para estimar o custo de dívida depois dos impostos basta aplicar a alíquota marginal de imposto da companhia sendo avaliada como fizemos na seção anterior.

Método usual

Essa abordagem é bastante utilizada na prática e menos precisa teoricamente. Para calcular o custo da divida de uma empresa por esse método basta dividir a despesa com juros do resultado corrente pela dívida bruta da companhia. Esse método constitui uma boa estimativa de quanto a empresa está sendo onerada atualmente com sua dívida, mas vale lembrar que esse método pode ser bastante impreciso se a empresa acabou de emitir ou pré-pagar parte de sua dívida. Além disso, a análise pode ser distorcida pela presença de dívidas pós-fixadas, pois ela levará em conta apenas o indexador naquele momento, e não sua estrutura futura.

Outras considerações

Vale ressaltar que nem sempre você vai conseguir estimar o custo da dívida com precisão. Isso acontece porque nem sempre é possível achar empresas comparáveis e também porque a dívida da empresa pode não estar negociando no mercado e nem possuir um rating.

Por último, nem todas as dívidas são prefixadas. Aqui no Brasil é muito comum encontrar empresas que tem boa parte de suas dívidas pós-fixadas, em geral indexadas ao CDI. É muito comum encontrar empresas que reportam dívidas com o custo do CDI mais um spread, por exemplo CDI + 2% ou então 150% do CDI. O spread existe por causa do risco extra que se corre ao emprestar dinheiro para uma empresa (e quanto maior o risco da empresa não honrar seu compromisso com o credor, maior o spread). Nesse caso, pode-se utilizar a curva de juros futuros para simular quanto a empresa vai pagar de juros ao longo do tempo e assim calcular seu custo da dívida.