Os últimos dois meses
Desde o início do Versa prezamos pelo alto nível de transparência para deixar todos à par dos riscos do fundo e para explicar turbulências como esta, que imaginávamos que chegariam. O artigo O risco-retorno do Versa inclusive, de setembro 2017, começa da seguinte forma:
“Com alta de 219% nos últimos 12 meses, o Versa tem se destacado pelo alto retorno, principalmente comparado aos 12% do CDI e aos 22% do índice Bovespa. Isso nos leva a pensar que alguma alquimia garantirá a continuação destes retornos e a esquecer o alto risco do fundo, que é o principal responsável por tal desempenho.”
Estamos passando por um momento de volatilidade, como já passamos algumas vezes na história do Versa. Nesses últimos 2 meses nossas maiores posições vendidas a descoberto, os shorts, decolaram. Do outro lado diversas ações compradas, os longs, afundaram.
A melhor explicação que encontramos está na diferença de estilo entre os papéis. Os papéis da nossa carteira comprada, como as lojas Hering e Br Properties são empresas que dependem do crescimento da economia para performar. São papéis baratos pelas dificuldades que enfretam no momento. Do outro lado Weg e IRB são empresas “defensivas” pela recorrência nos resultados, apesar de serem papéis extremamente caros.
A Hering, por exemplo, passou todos os últimos 4 anos sem crescer as vendas. Foram 2 anos de forte crise e outros 2 de desemprego elevado, que se mantém. Durante boa parte desse tempo perdeu margens, que já recuperou em parte. As vendas ainda estão fracas, mas vão crescer quando a economia acelerar, o que esperávamos para 2018 mas ficou para o ano que vem. Já a Br Properties é uma empresa dona de lajes comerciais e galpões. Ao longo da crise vários escritórios foram devolvidos. A empresa ainda tem muitas lajes vazias, outras em reforma, mas já começou a alugar.
Grande parte das perdas está nas posições vendidas à descoberto. A Weg tem operações no exterior e sempre foi uma “queridinha” dos investidores estrangeiros. Quando o dólar sobe a parte do exterior aumenta a participação nos resultados, o que faz da empresa “defensiva”. A maior perda da carteira, entretanto, foi IRB. O papel mais que dobrou desde o IPO a um ano atrás. O IRB tem níveis de rentabilidade que não são encontrados em nenhum lugar do mundo, fruto do monopólio no Brasil. Esta condição foi quebrada, mas a concorrência ainda não chegou. Subestimamos a velocidade que a quebra do monopólio aconteceria, e pegamos grande parte da alta vendidos à descoberto. Foi a maior perda do ano até agora.
Apesar da volatilidade estar prevista nas características do fundo, a forte e rápida nos levou a reflexões e ajustes nos parâmetros do fundo.
O Versa teve esse espetacular retorno desde o início em função da alavancagem. Essa se dá não apenas no tamanho da carteira, mas no tamanho individual das posições. O short entretanto, apresenta um problema. Quando sobem mais que a carteira, as posições aumentam rápido. Até hoje trabalhamos com o limite de 25% do PL ativo e 30% passivo para uma posição vendida à descoberto. Após estes movimentos, julgamos que estes limites estão inadequados. Por isso ajustamos o tamanho máximo das posições vendidas à descoberto para 15%, limitada a 20% passivamente. Com essa mudança, somos obrigados a diversificar a carteira vendida, trazendo mais estabilidade e evitando short squeezes. Outro problema detectado foi o limite da exposição bruta (gross). Quando um fundo alavancado cai, a exposição aumenta. Quanto maior o gross, mais rápido acontece. Não usávamos um limite de exposição bruta, apenas das posições individuais. A partir desta quinzena estabelecemos o limite de 300% para o gross, com margem de 15%, de forma a impedir que a alavancagem aumente excessivamente em momentos de stress como o atual.
Implementamos as mudanças e esperamos que os resultados apareçam em breve. Os ajustes nas regras são saudáveis e fazem parte da construção desse produto que tem o objetivo de surfar com força as tendências de alta e preservar o capital em momentos adversos. Se os novos parâmetros não trouxerem os efeitos desejados faremos novas mundanças, sempre em caráter restritivo. Cabe ressaltar que o fundo continua sendo de alto risco, por isso deve-se investir apenas uma pequena parte do patrimônio com horizonte de longo prazo. Os únicos que devem ter a maior parte do patrimônio investido no Versa são os sócios da gestora, como temos.
Resultado
31-ago-18 | 14-set-18 | Variação | |
Versa | 5,066 | 4,036 | -20,3% |
CDI aa | 6,4% | 6,4% | +0,3% |
Ibovespa | 76.678 | 75.429 | -2,7% |
A carteira vendida à descoberto causa maior desconforto, porém as perdas da quinzena se deram principalmente na carteira comprada, que caiu -7,7% enquanto a vendida subiu +1,8%.
Livro | Posição Líquida | Lucro (Prejuízo) |
Long | 213% | -16,4% |
Short | -138% | -2,5% |
Opç Bolsa | +40% | -2,5% |
Opç Dólar | -14% | -0,2% |
CDI | +0,3% | |
Taxas | -0,1% | |
Resultado | -20,3% |
Apesar das fortes perdas em Hering, BrProperties e Iochpe, continuamos otimistas com os fundamentos das empresas. Em função do aumento da alavancagem e do novo limite de exposição bruta, ajustamos o tamanho das posições e continuamos comprados nas ações. Também adequamos IRB aos novos limites de posições vendidas à descoberto.
Variação Ação | Perdas Versa | |
HGTX3 | -11% | -3,1% |
BRPR3 | -9% | -2,9% |
MYPK3 | -11% | -2,4% |
LCAM3 | -6% | -2,1% |
IRBR3 | +6% | -1,6% |
USIM5 | -13% | -1,6% |
maiores perdas em setembro
Pela primeira vez desde que começamos a escrever este relatório não tivemos retornos positivos significativos para mostrar, uma prova do quão atípica foi esta quinzena.