Janeiro foi o primeiro mês completo desde que iniciou-se a vacinação contra covid-19 no mundo. Também foi o mês em que o mundo atingiu o pico de infecções diárias da doença. Foi o pior e ao mesmo tempo o melhor momento desde que a pandemia iniciou. A dicotomia apareceu no mercado global de ações. Ações classificadas dentro da categoria “valor” e “cíclicas” tiveram um ótimo mês, visto pelo desempenho do índice americano Russell 2000, que subiu +4,73% em janeiro. O mais conhecido S&P 500 ficou praticamente de lado no mês (-0,48%), mas seus componentes também foram díspares: dos onze setores da economia representados no índice, 6 subiram e 5 caíram. Após essa rotação entre setores, o principal índice de ações do mundo segue negociando perto das máximas históricas.
Aqui no Brasil o Ibovespa sofreu queda de -3,3%, com movimento típico de “de-risking”, ou redução de risco. Do lado da pandemia, acreditamos que pesou a percepção (ampliada pelos eventos recentes em Manaus) de que o Brasil está atrasado no processo de imunização da população contra covid. Até o momento da escrita dessa carta, o Brasil tinha vacinado 1 em cada 100 brasileiros, em linha com outros países emergentes mas aquém do ritmo visto no mundo desenvolvido onde para cada 100 habitantes foram vacinados entre 2-3 na Europa e 9 nos EUA. Tiveram bom desempenho ações ligadas ao dólar e casos específicos como Hapvida e NotreDame-Intermédica (que anunciaram planos de fusão). As perdas do Ibovespa foram concentradas: (1) nas estatais, após a renúncia do presidente da Eletrobrás levantar anseios sobre a agenda de privatizações; e (2) setores ligados à economia doméstica, como imobiliário e varejo. A moeda brasileira foi novamente a pior moeda entre os países emergentes, perdendo -5,11% em relação ao dólar.
Os fundos da casa sentiram o cenário desafiador do mercado doméstico e do câmbio. Os Versa LB, Fit LB, Tracker e Charger caíram -21,9%, -8,9%, -9,3% e -4,4%, respectivamente.
Quem acompanha de perto a Versa viu os fundos passarem por três fases no último ano. A primeira fase foi entre fev/2020 e mar/2020, período em que a Versa se destacou frente ao resto da bolsa devido à nossa cautela em relação às restrições econômicas ligadas ao coronavírus. A segunda fase foi de abril/2020 até dez/2020, período em que surfamos a recuperação da bolsa diante da re-ascensão da atividade econômica, dos estímulos monetários e fiscais e dos avanços das vacinas contra covid-19.
Agora estamos na terceira fase. De forma geral, as bolsas recuperaram ou até passaram dos patamares vistos antes do coronavírus. Em alguns cantos do mercado (Bitcoin, GameStop, Tesla, S&P 500, algumas commodities), há quem diga que o otimismo já chegou ao ápice, já chegou na bolha. Para quem vê riscos pela frente (retirada dos estímulos, inflação), seria eventualmente o caso de reduzir o risco da carteira novamente.
Mas há outra dicotomia. Existem setores e ações onde a recuperação de abril/20 a dez/20 foi tímida ou inexistente. Em varejo vestuário, destacamos as ações da Hering, Marisa e Guararapes, todas negociando em torno de metade dos valores vistos antes da pandemia. Ainda no varejo, as ações da Vivara estão 17% abaixo do que estavam há um ano atrás. No setor imobiliário, BR Properties, Even e Trisul valem hoje 30% a 45% menos do que valiam antes da pandemia. O setor bancário ensaiou uma recuperação nos últimos meses, mas segue 15% abaixo dos níveis pré-pandemia no caso dos principais bancos privados (Bradesco e Itaú). O Banco do Brasil ainda está 30% mais barato do que estava há um ano atrás.
As 10 ações citadas são grande parte da carteira dos fundos Versa LB, Fit LB e Charger. Junto com nossa posição vendida a descoberto no dólar, elas explicam o fraco desempenho dos nossos fundos em relação à bolsa nas últimas semanas. Elas também são o motivo do nosso otimismo com a carteira em um cenário onde muitos sinais do mercado inspiram cautela. Seguimos confiantes na recuperação desses negócios após a vacinação da população contra covid-19. Acreditamos que as ações ainda refletem um cenário de pessimismo elevado, justificando mantermos exposição a elas.
Abaixo, damos mais detalhes sobre o desempenho das carteiras em janeiro.
Resultado dos Fundos
Estratégia Versa LB FIM e Fit LB FIM
Estratégia Charger
Estratégia Tracker
Destaques Positivos
O primeiro destaque positivo do mês foi General Motors. A empresa divulgou três notícias positivas em janeiro: (1) para o 4o trimestre, seu volume de vendas cresceu +5% a/a, ajudando a empresa entregar ganhos de participação de mercado nos segmentos de varejo e frotas no ano de 2020; (2) a Microsoft se juntará à Cruise (subsidiária da GM) para desenvolver o sistema de “cloud” necessário para a comercialização de veículos autônomos pela Cruise; e (3) até 2035, a GM comercializará somente carros elétricos, dando peso à meta da Cia de “zero emissions”. As notícias refletem dois pontos importantes em nossa tese de investimento em GM. Primeiro, sua força no mercado “antigo” de veículos movidos a combustão interna, ainda uma fonte importante de geração de caixa para a Cia. Segundo, seu potencial na transformação do setor de transporte com inovação.
O segundo destaque positivo do mês foi a posição vendida a descoberto no índice bovespa. A posição serve como fonte de financiamento para compra das ações preferidas da nossa carteira comprada e seu resultado não deve ser visto de forma isolada.
O terceiro destaque positivo foram as ações da Natura, que caíram -6,6% no mês.
Por último, destacamos duas posições no setor de proteínas: a posição comprada em JBS e a posição vendida em Brasil Foods. Em janeiro, as ações da JBS subiram +2,2% enquanto as ações da Brasil Foods caíram -3,7%. Acreditamos que a recuperação do rebanho de porcos na China esteja finalmente causando a inversão de um importante vetor de geração de valor (gripe suína africana) para empresas de proteínas. Inicialmente, a gripe suína que atacou o rebanho chinês fez faltar carne e sobrar grãos no mundo (isso foi bom para JBS e BRF). A reconstrução do rebanho está revertendo essa situação. O processo é danoso para todas as empresas de proteínas, em especial para a Brasil Foods, cujo faturamento é majoritariamente advindo de porco e frango. Acreditamos que as ações da JBS, uma empresa mais diversificada entre proteínas e geografias, seguem baratas mesmo em cenário de piora sequencial nos resultados por conta desse fenômeno. Digamos que os resultados voltem à normalidade até 2022. Pelos valores de mercado hoje, a JBS está negociando a 3,0x seu EBITDA 2022. A BRF está negociando a 7.0x seu EBITDA 2022, justificando nosso investimento na JBS contra BRF.
Destaques Negativos
Como explicado acima, os destaques negativos dos fundos em janeiro vieram de empresas ligadas à economia doméstica (Via Varejo, BR Properties, Vivara), além de nossa posição vendida a descoberta no dólar americano frente ao real. Vale mencionar também nossa posição vendida a descoberto nas ações do Banco Inter, que subiram +34% em janeiro.
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