Depois de dois meses consecutivos superando seu par americano (S&P 500), o Ibovespa perdeu força no mês de agosto, caindo -2,8% enquanto o principal índice de ações dos EUA subiu +7.0%. Foi o quinto mês seguido de alta para o S&P 500. Em meados de agosto, o índice superou sua máxima histórica pré-covid. O mais amplo Russell 2000 Index, que engloba um número maior de empresas e é mais diversificado que o S&P 500, também mostrou uma boa recuperação nos últimos meses (+59% desde meados de março, -7% em relação à máxima pré-covid), reflexo de um tema recorrente em nossas cartas nos últimos meses: a ideia de que a saída da “crise” do coronavírus será rápida, apoiada por uma solução para a pandemia da saúde (vacina) e pelo maior impulso fiscal e monetário da história.
Aqui no Brasil a bolsa reagiu negativamente à ruídos políticos ligados ao quadro fiscal do país, após atritos dentro do governo com relação à manutenção do chamado teto dos gastos e em resposta à votação no Senado Federal que teria aberto espaço para aumentos nos gastos com o funcionalismo público se não fosse depois barrada na Câmara dos deputados. Agora no início de setembro a confiança na agenda liberal do governo voltou, tanto do lado do executivo (Paulo Guedes fica) quanto do congresso. A Câmara não só reestabeleceu o veto do Presidente ao aumento de gastos com funcionalismo, como também aprovou a Lei do Gás, projeto do governo que busca o barateamento do custo de energia no Brasil via privatização da infraestrutura de gás que abastece o país. O presidente da câmara Rodrigo Maia citou recentemente que está confiante com a possibilidade de votar tanto a reforma tributária quanto a reforma administrativa ainda esse ano. A trancos e barrancos voltamos ao cenário favorável de recuperação ciclica pós-covid, amparado por farta liquidez e seguimento das reformas estruturais necessárias para garantir sustentabilidade dos gastos públicos no futuro. O dólar fechou o mês com alta de 5% e segue alto perante os fundamentos da moeda, como bem explicado pelo nosso economista chefe Tarik Migliorini na última edição do nosso Semanal Macro.
Com excessão do nosso long-only Charger, os fundos da casa devolveram parte dos ganhos dos últimos meses, impactados pelo ambiente fraco para o Ibovespa e a alta do dólar, citados acima. O Versa caiu -1,9%, o Fit caiu -0,8% e o Tracker caiu -6,0%. O Charger subiu +1,2% no mês, ajudado por sua menor exposição ao setor bancário quando comparado ao Ibovespa e aos fundos multimercados da casa (esses utilizam opções que os dão maior exposição aos bancos Itaú e Bradesco).
Resultado Fundos
Estratégia Versa LB FIM e Fit LB FIM
Estratégia Charger FIA
Estratégia Tracker FIM
Destaques Positivos
O primeiro destaque de agosto é General Motors, investimento que fizemos em março, aproveitando o grande desconto das ações para nos posicionar para surfar o avanço da Cia no segmento de veículos elétricos e autônomos. A empresa apresentou em agosto o seu primeiro veículo elétrico no segmento de luxo, reforçando seu compromisso com um all electric future e demonstrando seu potencial como protagonista na disrupção tecnológica do setor de transporte. As ações subiram +19% no mês. Mais informações sobre nosso investimento na General Motors aqui.
No Brasil, a carteira comprada foi beneficiada por ações ligadas à atividade doméstica, seguindo o rito dos últimos meses. A Via Varejo foi ajudada por um ótimo resultado no 2o trimestre, considerando as circunstancias. As vendas no e-commerce da Via Varejo subiram +280% a/a no trimestre e a Cia reportou aumento da margem de lucro operacional no período.
A queda do Ibovespa no período trouxe um ganho de +0.9% ao Versa (0.7% ao Fit), dado a posição vendida a descoberto em BOVA11 usada para financiar parte da carteira comprada dos fundos multimercados da casa.
Destaques Negativos
As principais perdas do mês vieram das posições nos bancos Itaú e Bradesco, ações que testaram uma recuperação em julho mas voltaram a cair em agosto. Seguimos perplexos com a fraqueza dos bancos nesse período de recuperação da bolsa. O setor se viu mais preparado financeiramente na crise do coronavírus quando comparado a crises passadas, mas ainda há incerteza sobre quão grande será a inadimplência de carteira na saída dessa crise. Acreditamos que o provisionamento para perdas feito nos últimos trimestres já reflete adequadamente os riscos ligados à pandemia, criando espaço para surpresas positivas no futuro no que se refere à inadimplência. Mais importante que isso, reiteramos a visão de que o impulso monetário usado para combater os efeitos da pandemia na atividade econômica tem só um canal de condução: os bancos. É verdade que os juros baixos atuais podem fomentar mais competição no setor bancário, o que levanta dúvidas sobre a rentabilidade de se vender crédito no país no futúro. Porém, nos parece um exagero imaginar que isso será condição permanente para um país com algum risco fiscal ainda pairando, e mesmo que fosse, não podemos desconsiderar que juros menores também reduzem a taxa de desconto aplicada à fluxos de caixa do futúro. O modelo de Gordon, tradicionalmente usado para avaliar os múltiplos justos para empresas, indica que mesmo se o retorno sobre patrimônio (ROE) do setor bancário cair dos ~20% que o setor entregava antes da pandemia para ~15%, os bancos ainda deveriam negociar a múltiplos acima de 2x patrimônio líquido. Hoje temos Bradesco e Itaú negociando entre 1,2x e 1,6x, um desconto excessivo mesmo para quem espera retornos menores para o setor bancário à frente.
Os outros destaques negativos do mês foram o dólar (citado acima) e as ações das empresas Trisul e Magazine Luiza. A Trisul é uma incorporadora, dependente de um bom ambiente de renda e crédito para fomentar seus negócios. O risco fiscal debatido em agosto gerou receios para a sustentabilidade dos juros baixos no Brasil, causando a queda das ações.
A Magazine Luiza, posição vendida a descoberto, se beneficiou do mesmo otimismo que pegou a Via-Varejo (acima).
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