Depois de alguns meses positivos, o mês de agosto foi fraco para mercados de risco mundialmente. O principal motivo em nossa visão foi o movimento das taxas de juros nos EUA. A taxa dos títulos públicos americanos com vencimento em 10 anos chegou a bater 4,35% ao longo de agosto (de 3,95% no final de julho), o maior nível em 16 anos. A dívida soberana dos EUA é considerada o ativo de menor risco no mundo, fazendo dela um balizador do valuation de todos os outros ativos financeiros.
O valor desses títulos tende a sofrer com o surgimento de alguma das seguintes preocupações: (1) expectativas de inflação mais alta; e/ou (2) receio quanto à capacidade do governo americano de honrar seus compromissos (uma raridade). Ambos fenômenos vieram à tona no último mês. Sobre a inflação, a perspectiva piorou na margem devido à persistência do crescimento econômico nos EUA, que segue acima dos níveis sustentáveis. De acordo com a previsão em “tempo real” do banco central americano (GDPNow), a estimativa de crescimento do PIB do 3o trimestre nos EUA beira a +6% anualizado. Trata-se de um crescimento quase 3x mais forte que o ritmo de longo prazo, o que sugere alguma persistência nas forças inflacionárias que o banco central americano vem combatendo há meses. Sobre a capacidade do governo americano honrar seus compromissos, tivemos uma notícia marginalmente negativa no início de agosto: a agência de rating Fitch rebaixou em um grau a classificação de risco da dívida americana de longo prazo (de AAA para AA+), reflexo dos repetidos déficits primários americanos nos últimos anos e do avanço de estímulos fiscais dos últimos meses visando renovação da infraestrutura, ampliação da capacidade de manufatura e redirecionamento da matriz energética para fontes renováveis. Esses fenômenos contribuíram para a desvalorização do ativo de menor risco do mundo (a treasury americana), aumentando sua atratividade vis-a-vis ativos mais arriscados como ações. O S&P 500 teve queda de -1,8% no mês, impactado pelas ações da Apple, Microsoft, Meta, JPMorgan e Tesla.
Os títulos públicos americanos impactam outro mercado importante para a economia dos EUA: o mercado de hipotecas, onde os juros (30 year mortgage rate) atingiram o maior nível desde 2001 em agosto. Concomitantemente, o valor médio das residências americanas voltou a bater recorde. Isso reflete o fato de muitas hipotecas terem taxas fixas estabelecidas no período da pandemia quando os juros eram muito baixos, o que desincentiva sobremaneira o americano médio a vender uma casa com hipoteca ativa. Isso comprime a oferta de casas e segura o preço dos imóveis em níveis altos mesmo em um momento de aperto das condições financeiras para o setor. Pensando de outra forma, é como se o esforço de aperto monetário já feito pelo FED ainda não tenha atingido em cheio um dos mercados mais importantes para a economia americana (imóveis), o que também sugere um cenário de juros “mais altos por mais tempo” nos EUA. É difícil domar a confiança do consumidor e o ímpeto da atividade econômica sem antes conter o valor do ativo mais importante para o americano médio: sua casa própria.
Por aqui, o Ibovespa caiu -5,1%, puxado por empresas do setor de varejo, como Pão de Açúcar, Grupo Soma e Via. Essas ações sofreram com a abertura da curva de juros, que no Brasil foi mais intensa devido às discussões em torno do orçamento da união de 2024 (dificuldades de criação de receitas e uma eventual rediscussão ou até não cumprimento da meta de déficit primário zero naquele ano). Nossos fundos foram negativamente impactados por esse pano de fundo (detalhes sobre o desempenho de cada fundo abaixo). O Brasil está adiantado no ciclo de juros dentre as principais economias do mundo. Nós já subimos e mantivemos os juros altos por muito tempo e iniciamos agora um caminho ainda longo de redução de juros que favorece uma exposição líquida comprada em ações em nossa visão. O cenário fiscal entrou em uma fase de turbulência agora e precisa ser monitorado, mas ainda achamos possível que a trajetória de resultado primário, mesmo que eventualmente pior que prometido inicialmente pelo arcabouço fiscal, fique dentro das expectativas já pessimistas do mercado para os primeiros anos do novo arcabouço. Com isso, mantemos a estratégia intacta, mas admitimos que um monitoramento cauteloso do cenário fiscal seja importante nesse momento de discussão sobre o orçamento no governo e congresso.
Resultado do Versa Institucional FIA (nossa principal carteira de ações)
Nossa carteira de ações long teve queda de -6,9%, com perdas lideradas pelas ações Grupo Soma, Guararapes, Multilaser, Gerdau, Neoenergia e Even.
Institucional FIA | ||||
---|---|---|---|---|
+ | Posição Long | -6,74% | ||
+ | Caixa e custos | -0,20% | ||
= | Total | -6,94% | ||
- | Benchmark (Ibov) | -5,09% | ||
= | Excesso Benchmark | -1,86% |
Destaques do mês- Institucional FIA | |||||
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Maiores | Contribuição | Menores | Contribuição | ||
Moura Dubeux | 0,36% | Grupo Soma | -2,07% | ||
BR Partners | 0,15% | Guararapes | -0,85% | ||
Vulcabras | 0,08% | Multilaser | -0,72% | ||
Taurus Armas | -0,02% | Even | -0,67% | ||
Banco do Brasil | -0,05% | Trisul | -0,61% |
Resultado dos fundos Long-Biased (carteira de ações mais alavancagem)
Nossos fundos long-biased sofreram com a queda da carteira de ações compradas. O Versa caiu -14,0% e o Versa FIT caiu -10,1%.
Fit Long Biased | ||||
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Carteira long (Institucional) | -6,94% | |||
x | ||||
Alavancagem Teórica | 1,40 | |||
≅ | ||||
+ | Posição Long | -14,13% | ||
Carteira short (Bova11) | -7,4% | |||
x | ||||
Alavancagem short | -0,36 | |||
= | ||||
+ | Posição Short | 2,67% | ||
+ | Hedge | 0,62% | ||
+ | Financiamento, Caixa e Custos | 0,75% | ||
= | Total | -10,09% | ||
- | Benchmark (CDI) | 1,14% | ||
= | Excesso Benchmark | -11,23% |
Versa Long Biased | ||||
---|---|---|---|---|
Carteira long (Institucional) | -6,94% | |||
x | ||||
Alavancagem Teórica | 2,10 | |||
≅ | ||||
+ | Posição Long | -16,73% | ||
Carteira short (Bova11) | -11,9% | |||
x | ||||
Alavancagem short | -0,09 | |||
= | ||||
+ | Posição Short | 1,07% | ||
+ | Hedge | 0,99% | ||
+ | Financiamento, Caixa e Custos | 0,72% | ||
= | Total | -13,96% | ||
- | Benchmark (CDI) | 1,14% | ||
= | Excesso Benchmark | -15,09% |
Resultado do fundo Versa Genesis (outra carteira de ações com perfil de renda recorrente + alavancagem)
O Versa Genesis caiu -12,7%, impactado negativamente pela carteira de ações “RFStocks” (ações de empresas com perfil de renda recorrente, cujos valuations são sensíveis ao ambiente de juros). A maior queda dentro do Genesis foi EcoRodovias, que em agosto devolveu parte da alta dos últimos meses.
Genesis | ||||
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Carteira long | -5,24% | |||
x | ||||
Alavancagem Teórica | 1,85 | |||
= | ||||
+ | Posição Long | -9,70% | ||
+ | Financiamento, Caixa e Custos | -2,97% | ||
= | Total | -12,67% | ||
- | Benchmark (IPCA +YIMA-B) | 0,71% | ||
= | Excesso Benchmark | -13,38% |
Destaques do mês - Genesis | |||||
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Maiores | Contribuição | Menores | Contribuição | ||
Copel | 0,28% | EcoRodovias | -2,55% | ||
TIM | 0,07% | Aliansce | -1,94% | ||
Sabesp | 0,00% | Neoenergia | -1,70% | ||
Telefonica Brasil | -0,10% | Energisa | -1,45% | ||
Cemig | -0,26% | Copasa | -1,44% |
Resultado do fundo macro Versa Tracker
O Versa Tracker caiu -8,8%, impactado negativamente pela carteira de ações compradas, pela sua exposição à curva de juros pré-fixada e pela carteira de ações “RFStocks” (ações de empresas com perfil de renda recorrente, cujos valuations são sensíveis ao ambiente de juros).
Tracker | ||||
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+ | Bolsa | -5,30% | ||
+ | Macro | -4,84% | ||
+ | Hedge | 0,34% | ||
+ | Caixa e Custos | 1,03% | ||
= | Total | -8,78% | ||
- | Benchmark (CDI) | 1,14% | ||
= | Excesso Benchmark | -9,92% |
Agradecemos a confiança depositada.
Atenciosamente,
Equipe Versa
Disclaimer: As opiniões, análises e informações contidas nesse artigo não constituem recomendação de investimento, nem tampouco material de oferta para subscrição, compra ou venda de títulos ou valores mobiliários, instrumentos financeiros, cotas em fundos de investimento ou qualquer produto ou serviço de investimentos. Declarações contidas neste artigo relativas às perspectivas dos negócios, projeções de resultados operacionais e financeiros, bem como referências ao potencial de crescimento das companhias citadas, constituem meras previsões, baseadas nas expectativas do analista responsável em relação ao futuro. Essas expectativas são altamente dependentes de fatores incertos, como o comportamento do mercado, da situação econômica do Brasil, da indústria e dos mercados internacionais. Portanto, cada declaração aqui escrita está sujeita a mudanças, e não deve ser utilizada como insumo para qualquer estratégia de investimento pessoal ou institucional. A Versa Gestora de Recursos Ltda., seus sócios e colaboradores, por meio dos fundos de investimentos da casa, podem ou não estarem posicionados em títulos e valores mobiliários de emissores aqui mencionados, de forma que eventualmente influencie nas opiniões e análises aqui presentes.