Por que os bancos centrais ao redor do mundo estão cortando juros?

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O objetivo primário de longo prazo dos bancos centrais ao redor do mundo é manter certa estabilidade de preços. Isso significa que a instituição deveria fazer de tudo ao seu alcance para que não haja nem deflação (queda de preços), nem uma inflação (aumento de preços) exagerada. Normalmente, os BCs utilizam como instrumento a taxa de juros básica (taxa SELIC no Brasil, Fed Funds Rate nos EUA) como instrumento para atingir sua meta.

Com Funciona? Para controlar a taxa de juros, os bancos centrais compram e vendem ativos financeiros como títulos públicos. Esse processo impacta o saldo de recursos e crédito disponíveis no sistema financeiro, pois quando o banco central compra títulos de instituições financeiras privadas, o saldo de caixa e a saúde financeira dessas instituições melhora. Com mais recursos em caixa para emprestar, instituições como bancos precisam competir pelo tomador de crédito; precisam baixar juros.

Os recursos fluem para o sistema em forma de mais empréstimos para consumo (imóveis, automóveis, cartão de crédito, etc) e investimento (empréstimos para empresas, empreendedores). O inverso também vale. Ao vender títulos públicos o Banco Central retira recursos do sistema a reduz a disponibilidade de crédito e empréstimos. Além disso, a taxa de juros também determina o custo de oportunidade dos donos do capital. Quanto mais baixa a taxa de juros, maior o incentivo dos detentores de dinheiro a investir na economia real ou em ativos com maior risco (como ações ou dívidas corporativas). Esse mecanismo serve para dosar o estímulo da economia, mirando um ponto ótimo entre crescimento econômico e inflação.

Em 1989, o BC da Nova Zelândia adotou o regime de meta de inflação, colocando um alvo explícito para a evolução nos níveis de preço para Banco Central atingir seu objetivo principal. Desde então diversos países adotaram a meta de inflação, e o regime se tornou padrão.

Aqui no Brasil, temos metas para a inflação desde 1999. Atualmente a meta é 4,25%, com 1,5pp de tolerância para cima ou para baixo. Ano que vem a meta será de 4% com 1,5pp de tolerância. Em 2021, o alvo passa a ser 3,75% com os mesmos 1,5pp de tolerância.

Além desse objetivo, muitos bancos centrais ao redor do mundo explicitam outros propósitos. Por exemplo, no Brasil, busca-se a solidez e a eficiência do sistema financeiro. Nos EUA e na Austrália, o mercado de trabalho também é colocado no mandato do banco central.

Ontem mesmo (31/07/2019), por entender que a economia americana precisa de um estímulo extra diante do cenário de desaquecimento e guerra comercial que vem se desenhando, o comitê de política monetária americano optou por baixar os juros em 0,25pp. No Brasil, o COPOM decidiu reduzir a taxa SELIC de 6,5% ao ano para 6%, na tentativa de avivar a retomada econômica que ainda tem se mostrado modesta.

A princípio, os comitês americano e brasileiro estão seguindo os princípios básicos de política monetária: menos inflação, menos juros, até que haja mais inflação. Mas desde que os juros no mundo desenvolvido caíram drásticamente para combater pressões deflacionárias causadas pela crise de 2008, surgiu um fenômeno inédito: a economia global voltou a crescer, o desemprego caíu, mas a inflação não veio. Com isso, os juros seguem baixos. Até que o mundo começou a desacelerar no primeiro semestre de 2019, os mercados contavam com uma gradual normalização para juros maiores, evitando um cenário inflacionário. Estamos vivendo o inverso. Na Europa por exemplo a taxa básica de juros está negativa. Isso levanta uma dúvida importante: se antes combatíamos recessões econômicas com queda de juros, qual ferramenta nos sobrará na próxima crise? Por enquanto, estamos exaurindo a principal ferramenta que conhecemos para evitar uma crise que ainda não veio.

Não temos a resposta, mas suspeitamos que a fundação da política monetária que conhecemos e descrevemos acima será testada e eventualmente substituída. Qual é a sua opinião? Estamos preparados para uma nova era de política monetária?