Recentemente escrevemos sobre nosso investimento na Terra Santa Agro (TESA3), uma das maiores produtoras de soja, milho e algodão no Brasil. Nela, miramos uma recuperação operacional e financeira, fruto de aumentos de produtividade agrícola e uma re-estruturação de dívida que juntos devem colocar a Cia em trajetória sustentável de geração de caixa. Recentemente identificamos três fatores que alavancam essa tese; fatores que favorecem o cenário de preços de grãos mundialmente. Com isso, votamos a favor e subscrevemos ao aumento de capital da Terra Santa Agro. Além disso, trouxemos outra ação para a carteira: SLC Agricola (SLCE3). A SLC é campeã no setor agrícola. A empresa vem abrindo fronteiras para o agronegócio brasileiro desde sua fundação em 1977. Foi protagonista, inclusive, na transformação do cerrado brasileiro em o “celeiro do mundo”. Hoje a empresa planta >450 mil hectares de terra madura e altamente produtiva no Brasil.
3 Motivos Por Mais Otimismo com Fazendeiras Brasileiras
Os três fatores que aumentaram nosso otimismo com o setor agrícola brasileiro são: (1) acirramento da guerra comercial entre a China e EUA; (2) um potencial aumento de demanda por soja e milho após o controle da peste suína africana na China; e (3) o atraso no plantio de soja e milho nos EUA. Elaboramos cada ponto abaixo.
Guerra Comercial EUA x China – Como Pode Ser Bom?
No início de Maio, logo quando parecia que as negociações apontavam para um acordo pacífico entre os países, Donald Trump endureceu o discurso contra a China. Aumentou de 10% para 25% as tarifas de importação já existentes para US$200 bilhões de produtos exportados da China para os EUA. Na sequencia a China retaliou, elevando as tarifas já impostas em US$60 bilhões de produtos importados dos EUA. O acirramento da disputa comercial favorece países que competem com os EUA na exportação de produtos para a China. No agronegócio esse fenômeno é tremendo. Ao reduzir as compras de soja dos EUA, a China precisa recorrer a outras fontes. O Brasil, 2o maior produtor de soja no mundo, é destino natural. Qual é o resultado disso? A soja brasileira que historicamente (antes da guerra comercial) negociava com desconto para os preços do Chicago Board of Trade hoje negocia a um prêmio de ~10-15%. A briga entre Trump e China trouxe melhores perspectivas de tanto volume quanto preço para fazendeiros no Brasil.
Peste Suína Africana – Pode Aumentar Demanda por Soja Mesmo?
O rebanho de porcos na China é enorme: representa metade do rebanho mundial. Desde agosto do ano passado o país vem enfrentando uma epidemia de febre suína africana que obrigou criadores de porcos a sacrificarem até 30% do rebanho, uma medida que busca limitar o contágio da doença. Nas últimas semanas houve muita especulação de como isso pode impactar os mercados de soja, milho e carne pelo mundo. A princípio, menos oferta de carne suína deveria fazer seu preço subir. E um rebanho menor de porcos deveria consumir menos soja. Concordamos com o impacto na carne, mas discordamos com a tese sobre consumo de soja. Enquanto o chinês mantiver seu apetite por proteína animal, principalmente a de porco, acreditamos que deveria ocorrer uma corrida por criadores de porcos e frigoríficos fora da China para aumentar a capacidade de exportação para o país asiático. É natural que eles queiram preencher o vácuo deixado pela redução da oferta de carne suína na China. E para isso, precisam de ração animal, composta por soja e milho. O rebanho de porcos perdido na China será recomposto, à médio prazo, dentro e fora da China.
Uma analogia boa para entender esse conceito: imagine que você está dirigindo a 120km/h na estrada e se depara com um radar de velocidade com limite de 60km/h. Você imediatamente freia para atingir os 60km/h, e ao passar do radar acelera de novo para recompor os 120km/h. Nessa brincadeira, você certamente irá consumir mais combustível do que se nunca tivesse encontrado o radar. Manter velocidade de 120km/h consome menos combustível do que ir de 120km/h para 60km/h e de volta para 120km/h.
Acreditamos que esse processo de recomposição do rebanho perdido na China deve gerar aumento na demanda por soja e milho ao longo dos próximos meses.
Atraso no Plantio Americano – Pimenta nos Olhos dos Outros…
No dia 28 de Maio o USDA confirmou expectativas de que o plantio da safra americana de milho e soja está atrasado, devido a excesso de chuvas. O avanço do plantio de milho estava em 58%, vs. 90% na mesma época do ano passado. O avanço do plantio de soja estava em 29%, vs. 74% na mesma época do ano passado. No mundo agrícola, atraso de plantio é dramático, pois existe a “janela” de clima favorável para plantar, desenvolver e colher os grãos. Desvios dessa janela podem causar perda de produtividade e, no limite, abandono de campos onde não se conseguiu plantar a tempo. Tudo isso corrobora para uma eventual “quebra de safra” nos EUA em 2019, com impactos positivos para preços no Chicago Board of Trade.
Seria Esse o Perfect Storm para SLC e Terra Santa?
A combinação dos fatores acima corrobora para um melhor ambiente de preços para soja e milho no mundo, principalmente no Brasil. Dos “vetores de geração de valor” que analisamos para toda tese de investimento, aumento de preço é o mais importante. É o vetor que aumenta tanto faturamento quanto rentabilidade (tudo mais constante). Para uma empresa alavancada como a Terra Santa Agro, o vetor acelera a redução do endividamento e transfere mais rapidamente valor gerado pela empresa do credor para o acionista. Para uma empresa com balanço forte como a SLC Agrícola, o vetor traz aumento de geração de caixa que pode ser usado para pagamento de proventos (dividendos) ou para financiar novas iniciativas de crescimento. Ambas ações negociam abaixo dos múltiplos que consideramos razoáveis para o negócio de soja, milho e algodão (6.0x-7.0x EV/EBITDA). Esperamos que os fatores acima tragam confiança ao mercado de que o potencial de geração de EBITDA e lucros, além da melhora das estruturas de capital das empresas, tornou-as baratas demais para ignorar.
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