Existem algumas razões para acreditarmos numa recuperação importante das ações da Iochpe ao longo de 2017. A empresa atravessou anos muito difíceis desde a mudança fundamental ocorrida em 2012, quando se consolidou como a maior fabricante de rodas do mundo. Em um movimento ousado e inteligente a empresa se aproveitou dos bons anos vividos no mercado brasileiro para diversificar geograficamente seu portfolio, fazendo 2 aquisições que se tornaram vitais para sua sobrevivência até hoje: Hayes Lemmerz e Inmagusa/Gallaz, um investimento de USD 870 MM a uma taxa de câmbio dólar-real de R$ 1,75 e que hoje representa 75% de suas receitas.
Após as aquisições transformacionais, a empresa passou por ajustes importantes: melhorou operacionalmente as plantas adquiridas lá fora, trazendo-as para patamares de rentabilidades adequados a indústria e equacionou o endividamento contraído para o financiamento dessas aquisições. Isso, por si só, teria sido um trabalho intenso e árduo dado o tamanho das empresas adquiridas, mas o desafio maior não foi este. O inicio da queda vertiginosa do mercado de veículos leves e pesados no Brasil, que começou também em 2012 e dura até hoje, atrapalhou significativamente a estabilização da empresa. Nesse tempo, foi feito uma série de rodadas de ajustes de capacidade nas plantas brasileiras, como demissões e renegociações com fornecedores, na tentativa de adequar a produção à demanda do mercado doméstico, que saiu do seu pico de 3,8MM de automóveis em 2012 para 2 MM em 2016, afetando negativamente o resultado da empresa.
Também não podemos desprezar as perdas da joint-venture da empresa com a fabricante de vagões ferroviários Amsted. A demanda errática do segmento traz uma complexidade enorme para manter a operação saudável e rentável. A solução encontrada pela Iochpe foi um acordo com a Greenbrier, maior fabricante mundial de vagões, no qual transfere aos poucos sua participação para a empresa americana, que pode atingir 80% do capital ao longo dos próximos anos.
Resumindo, a empresa fez movimentos difíceis, importantes e corretos, mas a conjuntura atravessada fez o nível de endividamento ficar muito alto por mais tempo do que se imaginava. Com isso, foi obrigada a rolar as dividas com taxas cada vez mais elevadas, função da deterioração do mercado interno brasileiro e do ciclo de forte elevação de taxas de juros, que perdurou até pouco tempo atrás. O fato de a empresa ser sediada no país, que sofreu aguda aversão a risco dos investidores estrangeiros, também dificultou a rolagem das dividas.
Algumas iniciativas promovidas pela Iochpe a partir do segundo semestre de 2016 nos fazem acreditar que a empresa superou os momentos mais difíceis. Em primeiro lugar, com a melhora do cenário global, a empresa conseguiu captar USD 300MM nos EUA com custo bastante inferior ao mesmo financiamento em Reais. Além de alongar o prazo médio de vencimento das dívidas, esta troca deve gerar uma economia entre R$40 e 50MM por ano. Com essa operação, a empresa equilibrou melhor sua estrutura de passivos com a origem de suas receitas, que vêm em grande parte de mercados internacionais. Do mesmo modo e com os mesmos objetivos, a empresa está em processo de emissão de divida na Europa de aproximadamente EUR 130MM.
Adicionalmente a estas emissões de custo menor, a empresa também realizou um aumento de capital de R$ 400MM, que somado à conversão de divida de debenturistas pode atingir até R$ 570MM. Esse aumento de capital deve reduzir significativamente a alavancagem da empresa que nos últimos 4 anos orbitou entre 3 a 3,5x a geração de caixa, para algo entre 2 e 2,5x ao longo de 2017. Isto, somado aos juros mais baixos das novas dívidas, reduzirá significativamente sua despesa financeira, resultando em lucros maiores nos próximos trimestres. A redução dos juros em curso no Brasil, que ainda representa parte importante do endividamento, ainda trará benefícios adicionais à empresa.
A recuperação do mercado de automóveis no Brasil, ainda incerta, pode potencializar a recuperação da empresa, aumentando a utilização do seu parque fabril, trazendo de volta a alavancagem operacional e consequentemente maiores margens e lucro. Outro ponto que pode ajudar na recuperação é a migração das rodas de aço para alumínio. Esse tipo de roda tem preços mais elevados, além de gerar margens melhores para a empresa. Esse movimento iniciado há alguns anos deve fazer com que a rentabilidade da empresa melhore, por conta da crescente penetração do alumínio nos mercados como Europa e EUA, bem como através de adição de capacidade no Brasil nas plantas de Santo Andre e Limeira e possivelmente na India nos próximos anos.
Assim, o equacionamento em curso da estrutura de capital, conjugada a uma recuperação mesmo que lenta do mercado brasileiro e a manutenção de um crescimento ainda que pequeno tanto na Europa como nos EUA, nos deixam otimistas com a recuperação da Iochpe ao longo de 2017. A empresa deve se beneficiar tanto da redução do custo de capital, quanto da maior alavancagem operacional. Pelas nossas contas, a empresa deve fechar 2016 com um lucro de R$ 30MM que deve crescer para R$ 140 MM em 2017 e R$ 235MM em 2018. Com isso, a empresa ainda negocia a um múltiplo de 8x lucro para 2018, o que consideramos baixo dado seu potencial, que será atingido quando a empresa voltar a operar em plena capacidade.
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