Ainda faltam 10 meses para o primeiro turno das eleições presidenciais mas este assunto já é o mais questionado pelos nossos investidores, por isto publicaremos uma serie de artigos nos quais desfilaremos a nossa visão até o dia da votação. Neste início são puras especulações que serão postas a prova conforme as chapas sejam definidas e as pesquisas ganhem confiabilidade.
O que as eleições passadas nos ensinam
Diversos estudos tentaram identificar as variáveis que explicam a vitória de um candidato nas eleições. Alguns utilizam variáveis clássicas como a avaliação da economia, a avaliação do governo e a transferência de renda, enquanto outros testaram variáveis intangíveis como o tom da propaganda na tv (propositiva, negativa, ideológica, etc) e a aparição dos candidatos nos noticiários. Apesar de algumas delas terem alto poder explicativo, cada eleição tem condições particulares que afetam o resultado. Ainda, tivemos apenas 7 eleições diretas desde a redemocratização o que é uma amostra pequena para ter significância estatística. Mesmo assim algumas semelhanças entre elas chamam a atenção.
(1) Das 7 eleições desde 1990 houveram 5 continuidades e apenas 2 rompimentos com o governo anterior. As continuições foram através de 3 reeleições e 2 substituições por novos presidentes que faziam parte da equipe do antecessor. FHC, eleito em 1994 e 1998, era da equipe econômica de Itamar Franco, vice de Collor que assumiu o governo após o impeachment. Dilma, eleita em 2010 e 2014, foi ministra de Lula durante quase todo o seu mandato conquistado em 2002 e 2006. Parece haver, portanto, uma inércia que favorece o grupo que está no poder.
(2) Todas as 7 eleições tiveram candidatos com discursos radicais mas apenas na primeira e mais fragmentada um deles chegou ao segundo turno, Lula. Em 1994 e 1998 FHC venceu no primeiro turno com um discurso moderado. Na primeira eleição do Lula em 2002 ele escreveu a “carta ao povo brasileiro” onde abandonou o discurso radical e adotou a conciliação e continuidade. Todas as eleições a partir de então foram polarizadas entre candidatos moderados do PT e do PSDB.
(3) O Brasil gosta da política de esquerda, que venceu 6 das 7 eleições. Collor foi o único presidente de direita e seu mandato pouco tempo durou. Por outro lado o brasileiro ainda não decidiu o modelo econômico que prefere pois o país oscilou entre governos liberais e intervencionistas. Collor era liberal e iniciou a abertura da economia brasileira. Fernando Henrique Cardoso foi um esquerdista liberal que fez privatizações e aproveitou os bons resultados da economia para aumentar a rede de proteção social, criando o embrião do Bolsa Família. Os governos seguintes do PT foram de esquerda intervencionista. Lula e Dilma criaram novos programas sociais como o Minha Casa Minha Vida, e aumentaram a influência do governo na economia através dos bancos públicos como a Caixa e o BNDES, e das empresas de economia mista como a Petrobras e a Eletrobrás.
(4) As mudanças do modelo econômico e dos grupos dominantes no fim da era FHC e no impeachment da Dilma coincidiram com alto índice de desemprego. Quando Lula venceu Serra, ex-ministro de FHC e candidato do grupo dominante, a taxa de desemprego estava perto de 12%, mesmo nível que chegou quando Dilma sofreu o impeachment em 2016. Assim parece haver um nível de desemprego a partir do qual há mudança da preferência da população. A variação do emprego, por outro lado, não parece afetar a escolha do presidente uma vez que FHC foi eleito e re-eleito com o desemprego em elevação.
(5) Em todas as 7 eleições desde 1990 o vencedor do primeiro turno foi eleito presidente. Apesar do segundo turno colocar os candidatos em condições de igualdade, nunca houve mudança no resultado inicial.
A especulação inicial
As eleições de 2018 têm características únicas e novas que dificultam as previsões. Temer, como vice de Dilma, deveria ter continuado o intervencionismo assim como Itamar deu sequencia ao liberamismo de Collor. Ao invés disso, por falta de opção para combater o problema fiscal do Brasil, Temer tomou o outro caminho e promoveu reformas e desestatizações. Com o desemprego atual ao redor de 12% e a expectativa que pouco diminua em 2018, as eleições deveriam causar a mudança do modelo econômico. Porém isto acabou de acontecer e a mudança representaria a volta ao modelo recém-fracassado. Assim a inércia do grupo dominante deve estar mais fraca desta vez mas é provável que o povo eleja um candidato liberal.
Dois elementos comuns a quase todas as eleições têm grande chance se repetir dessa vez: o fracasso de candidatos radicais e a escolha de um presidente socialista. Identificado como um radical de direita, Bolsonaro não se enquadra nesses critérios. O PT com Lula acuado voltou a adotar o discurso radical e passou a fugir a esta regra. Sobram Marina, Alckmin e um provável candidato do governo que acreditamos ser Henrique Meirelles
Das três opções, Marina e Meirelles são os mais aderentes às características que encontramos. Marina é esquerdista, nas últimas eleições se posicionou como uma liberal, e representaria a ruputura com o grupo atual. Meirelles, liberal de carteirinha, pode explorar os programas sociais do Lula quando era o homem forte da economia para se provar socialista. Meirelles conta com a inércia do grupo governante e com a coincidência de fazer parte da equipe atual. Por último, Alckmin preenche poucos requisitos. Não teve cargos no governo atual do qual o seu partido está cada vez mais distante. Se diz socialista e liberal mas é difícil encontrar fatos para comprová-los. Por isso, na nossa avaliação, o melhor para o PSDB e para o Brasil seria o partido não concorrer com candidato próprio. Uma boa combinação seria Alckmin vice na chapa com Meirelles, o que é difícil acontecer.
Como falamos no início, estas são apenas especulações em cima de análises simplistas e podemos facilmente nos supreender. Como houveram apenas 7 eleições, a fuga aos padrões não tem baixa probablidade. Ainda, é difícil saber o impacto das mídias sociais que têm substituído a televisão e o rádio como meio de informação. Trump, por exemplo, foi uma quebra de paradigmas em um país com um grande universo amostral de eleições. Assim, algo inesperado também pode acontecer por aqui. Precisamos, entretanto, criar nossas espectativas e para isso gostamos de análises simplistas, tanto para política quanto para empresas. Entendemos que quanto mais variáveis um indivíduo projeta, maior a chance dele errar. Quanto menos variáveis tiver o modelo, mais poderoso ele é. Gostamos e adotamos o princípio da parcimônia sempre que possível.
Eu gostaria de saber se o Versa Long Biased esta preparado para o dia 24/01/2018 (julgamento do Lula), o fundo fez algum tipo de hedge para evitar quedas exageradas nesse dia, pois dizem que se o molusco não for condenado por 3×0 a bolsa pode ter uma queda exagerada.
Kerles, bom dia. Não fazemos apostas para eventos. Nosso posicionamento é de médio-longo prazo visando capturar a melhora da economia. Um abraço
Bom dia. Pelo que entendo o fundo tem de modo geral um viés otimista da economia a médio / longo prazo. Minha pergunta é, o que ocorreria com o fundo caso o cenário se reverta e o IBOV passe a acumular perdas constantes. Ainda que seja algo hipotético, mas como vocês se preparam pra esse tipo de cenário?
Ricardo, bom dia. Não há como ter uma carteira otimista e, ao mesmo tempo, preparada para um cenário pessimista. Por isso comunicamos nossas expectativas. Se ficarmos pessimistas, podemos até mesmo nos beneficiar da queda. Mas se estivermos otimistas e a bolsa engatar uma sequência de quedas, teremos uma sequência de perdas. Um abraço,
Obrigado pela resposta Luiz.
Outra pergunta, as posições do fundo em Short servem para fazer hedge, ou para aumentar os lucros?
Os shorts cumprem ambas funções. Quando se movimentam na direção contrária dos longs, permitem aumentar os lucros (ou os prejuízos). Quando os shorts se movem na mesma direção dos longs, funcionam como hedge da posição. Um abraço,
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