Na última semana os mercados continuaram a reagir positivamente aos cenários interno e externo. No Brasil, os indicadores econômicos tem confirmado um cenário de recuperação na atividade sem que isso signifique aumento de juros tão cedo. De fato, mesmo que o corte de 0.50% na Selic não tenha surpreendido, as projeções de inflação do BC para 2020/2021 se mostraram muito bem-comportadas, sugerindo espaço adicional para cortes. Na geopolítica mundial duas nuvens negras se amainaram. De um lado, China e EUA finalmente chegaram a um acordo temporário na guerra comercial. De outro, a vitória acachapante do partido conservador nas eleições do Reino Unido permitirá que o governo finalmente chegue a um acordo (saída) para o Brexit.
Brasil
Atividade Econômica: indicadores confirmam recuperação
As vendas do varejo subiram +0.1% M/M em outubro no conceito restrito e +0.8% no conceito ampliado, praticamente em linha com as expectativas de mercado. Embora o resultado pareça tímido, algumas considerações devem ser feitas. Em primeiro lugar, vale lembrar que a Black Friday (novembro) tem se tornado cada ano mais popular nos hábitos de consumo do brasileiro. Ou seja, as vendas de outubro subiram na margem, mesmo levando em conta a tendência de postergação de consumo para Novembro. Em segundo lugar, o crescimento foi relativamente generalizado, sendo positivo em 6 das 8 principais categorias.
Figura 1: Vendas do Varejo (Índice) – Brasil
Na mesma direção, o volume de serviços em outubro avançou +0.8% M/M, acima da expectativa de 0.2%. Resultados positivos foram relativamente generalizados, com 4 das 5 principais categorias avançando na margem. Os destaques ficaram com serviços prestados as famílias (+1.5% M/M) e serviços de informática e comunicação (+1.8%). Os serviços de logística também chamaram a atenção, subindo +1.1% em relação a setembro, depois de números muito fracos ao longo do ano. De fato, essa categoria só cresceu +0.3% em relação a outubro de 2018.
Figura 2: Volume de Serviços (Índice) – Brasil
Política monetária: mais espaço para cortes em 2020
Como era esperado, o Bacen reduziu a Selic em 0.5% a.a. na última quarta-feira, em decisão unânime. Na verdade, a dúvida do mercado não estava aí, mas sim na comunicação sobre eventuais cortes no ano que vem. Que fique certo, o texto do comunicado não se comprometeu com nenhum caminho. Nas palavras do Bacen:
“O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”
No entanto, as projeções de inflação sugeriram que há mais espaço para cortes. De fato, podemos dizer que as projeções de inflação para 2020 vieram mais baixas do que muitos economistas esperavam. A projeção no cenário de mercado (Selic em 4.25% e dólar em R$4.10) caiu para 3.5% (ante 3.6% na última reunião), valor sensivelmente abaixo da meta de 4.0%. Ou seja, parece que se nada der errado até lá, um corte de 0.25% em fevereiro estaria “dado”. A dúvida seria se o Copom poderá ir um pouco além disso na reunião seguinte.
Mundo: Céu um pouco mais azul
Os EUA e a China finalmente chegaram a um acordo preliminar na guerra comercial. O alívio dos investidores se justificava, pois sem o acordo uma nova leva de tarifas entraria em vigor no domingo. Além disso, o acordo prevê uma redução das tarifas já implementadas bem como um compromisso do governo Chinês em aumentar as compras de alguns produtos americanos, com destaque para os produtos agrícolas. Desta forma, diminuíram os temores de que o acirramento da disputa pudesse comprometer ainda mais o crescimento mundial.
De fato, os dados de atividade econômica também sugerem melhora no curto prazo na China. A produção industrial de novembro foi o destaque, avançando 6.2% A/A, contra uma expectativa de 5.0%. As vendas do varejo também se aqueceram, ao subir 8.0%, contra expectativa de 7.6%. Como podemos ver no gráfico abaixo, a economia chinesa tem mostrado uma clara tendência de desaceleração (menor crescimento) nos últimos anos, agravada, entre outros fatores, pelas tensões comerciais.
Figura 3: Varejo e Produção Industrial (cresc. % A/A) – China
As eleições no Reino Unido diminuíram as incertezas do Brexit. O partido conservador conquistou 365 cadeiras, o que lhe confere maioria absoluta no parlamento. Desta forma, o governo do primeiro ministro Boris Johnson terá amplo apoio no parlamento para implementar sua agenda, inclusive para aprovar o acordo de saída da União Europeia, uma de suas bandeiras de governo. Portanto, o risco de uma saída desordenada parece ter ficado para trás.
Commodities
Os preços da soja, milho e algodão em Chicago se destacaram na semana. Nos casos da soja e milho, os preços foram impulsionados por: (1) noticias de que o rebanho de porcos na China voltou a crescer, iniciando o processo de recomposição do plantel de suínos chinês após a grande perda causada pela peste suina africana no país; e (2) um decreto que aumentou a tarifa de exportação sob produtos agrícolas na Argentina. A Argentina é um dos maiores produtores de milho e soja do mundo. O aumento das tarifas de exportação desses produtos deve reduzir a disponibilidade de soja e milho no mundo, favorecendo preços para produtores fora da Argentina. No caso do algodão, os preços reagiram à primeira fase do acordo entre os EUA e China na guerra comercial. Uma eventual resolução para a guerra comercial favorece o ambiente de atividade econômica mundial e pode impulsionar a demanda por petróleo (que também subiu na semana), insumo principal das fibras sintéticas que competem com o algodão.
Figura 4: Preço das commodities
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