Resumo
A inflação do Brasil gostou de cair e não quer mais parar. A queda é um sintoma da fraqueza da economia, mas também da ancoragem das expectativas e da menor inércia (reajustes vinculados à inflação) resultante da queda, gerando um círculo virtuoso para o índice de preços. A combinação prescreve mais estímulos para a economia e como não há espaço para o governo gastar mais, resta ao Banco Central aprofundar o corte nos juros. Os números levaram diversas casas a revisar as apostas na queda da SELIC, chegando a taxa final de até 4%. Se a inflação continuar ao redor de 3.5%, caminhamos para a menor taxa de juros real da história brasileira, que contribui para a sustentabilidade da dívida pública já que reduz os juros pagos pelo Tesouro. Ao mesmo tempo o Congresso está empenhado nas reformas estruturais, criando um pano de fundo robusto para a economia. Com a nova previdência, reforma tributária, pacto federativo, privatizações, taxa de juros baixa e inflação controlada é impossível não ficar otimista com o Brasil. O grau de otimismo, entretanto, varia com o cenário externo.
Brasil
A deflação em setembro surpreendeu o mercado, que revisou as estimativas para o final do ano e aumentou as apostas em cortes mais profundos da SELIC. Foi o menor IPCA de setembro dos últimos 20 anos. Os maiores responsáveis pela deflação foram a conta de luz que caiu após a revisão da bandeira tarifária de vermelho para amarelo, e ítens de casa como móveis e eletrodomésticos cujos preços caíram em setembro. Mesmo os ítens menos voláteis da cesta de inflação desaceleraram, como a inflação de serviços que caiu de 0.35% m/m em agosto para 0.07% m/m em setembro. Depois do número o BTG revisou a estimativa do IPCA de 3,5% para 3,3% no final do ano. Já o UBS revisou a estimativa da SELIC no final do ano de 4.75% para 4.5%. A XP mantém os 4.5% para o final do ciclo mas agora vê maior risco de cair para 4.0%. O Itaú revisou a taxa terminal da SELIC para 4% ,com 2 cortes de 0,5% e outros 2 de 0,25%.
O IBGE divulgou os novos pesos da cesta do IPCA que valerão a partir de janeiro de 2020 e as estimativas iniciais apontam para uma inflação -0.1% menor com a nova ponderação.
As vendas no varejo da PMC (pesquisa mensal do comércio) de agosto decepcionaram mas cresceram pelo 3° mês consecutivo. 15 dos 27 estados brasileiros reportaram expansão, 4 dos 8 grupos do varejo monitorados tiveram crescimento. As vendas totais, que incluem automóveis e materiais de construções, ficaram estáveis em relação a julho pela fraqueza no setor automotivo (-1,7% m/m). A desaceleração das vendas no varejo deve ser temporária. O varejo deve reagir nos próximos meses à liberação do FGTS (iniciada no meio de setembro) e ao aumento do crédito ao consumidor.
O setor de serviços contraiu -0,2% m/m em agosto após subir +0,7% em julho segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). A queda foi maior que o esperado (0%) e adiciona à desaceleração notada nas vendas do varejo. Nos últimos 12 meses o crescimento do varejo desacelerou de +0.9% para +0.6%. O PMI e o índice de confiança da FGV de setembro uma indicam melhora marginal. Ainda assim, o setor continua a patinar no nível de 2016.
O índice de confiança do comerciante medido pela confederação nacional do comércio (CNC) subiu 0.1% em setembro (+12,7% em relação a 2018) atingindo 121.4, maior nível desde maio. Estudos da confederação indicam que as vendas do dia das crianças deve crescer 4.4% em relação ao ano passado, em alta pelo 3° ano consecutivo.
O IBC-Br de agosto (+0.07% m/m) veio abaixo do esperado (+0.20%), mas mostrou aceleração da atividade e o número de julho foi revisado para cima (-0.07% m/m vs -0.16% antes). A aceleração do IBC-Br é fruto da melhora da indústria em agosto e compensada pela desaceleração dos serviços.
A pesquisa FOCUS mostrou novas revisões da inflação para 2019 e 20 após os últimos dados fracos, e o efeito sobre a expectativa de cortes na SELIC.
A Câmara aprovou as regras da partilha do pré-sal, destinando 15% dos recursos para estados e outros 15% para municípios. A aprovação é importante para garantir o leilão em novembro e para destravar a votação da reforma da previdência em segundo turno.
EUA
A notícia da semana foi o avanço nas conversas entre EUA e China para reduzir as disputas comerciais e impedir o aumento das tarifas programadas para o final do ano. Trump comemorou o acordo apesar dos chineses continuarem relutantes após as últimas idas e vindas. O acordo deve ser selado em novembro quando Trump vai encontrar o presidente da China Xi Jinping no Chile.
A inflação para o produtor (PPI) surpreendeu para baixo e a queda espraiada na maioria dos componentes do índice é mais um indício que a demanda final (economia) está enfraquecendo. A inflação para o consumidor (CPI) também enfraqueceu em setembro, indicando que a pressão dos meses anteriores foi temporária. Os dois números apontam para um PCE – inflação para o consumidor calculada pelo departamento de economia – abaixo do alvo de 2% do FED, permitindo novos cortes na taxa de juros americana.
O FED anunciou a compra de USD 60 bi em treasuries por mês até, pelo menos, o segundo semestre de 2020. O objetivo é aumentar a liquidez do sistema bancário e foi uma resposta ao pulo nas taxas overnight em setembro. A compra expande o balanço do banco central e injeta recursos na economia aos moldes do quantitative easing pós-crise de 2008, porém naquela ocasião o FED comprou títulos longos e afetou a curva de juros enquanto agora está comprando títulos curtos, afetando apenas a taxa interbancária.
O índice de confiança do consumidor medido pela Universidade de Michigan surpreendeu e recuperou a queda de setembro. O desemprego baixo continua elevando o sentimento.
China
O jornal financeiro Caixin complementou a pesquisa PMI com a divulgação do índice para o setor de serviços. Apesar da queda em relação a agosto, o índice composto subiu em função da melhora nas manufaturas divulgada na semana anterior.
A balança comercial de setembro mostrou saldo maior que o esperado com as importações caindo mais que as exportações. O saldo tem ficado resiliente apesar da guerra comercial com os EUA.
Commodities
O destaque da semana foram a soja e o milho com altas de +2,8% em Chicago reagindo a: (1) um relatório do departamento americano de agricultura (USDA) que reduziu a estimativa de estoque de passagem entre as safras 18/19 e 19/20 nos EUA, com impacto relevante para a dinâmica de oferta e demanda global; (2) negociações entre EUA e China sobre a guerra comercial, com potencial aumento de compras de produtos agrícolas americanos pelos Chineses após as negociações; e (3) a aproximação do inverno nos EUA, o que aumenta a possibilidade de hectares plantados em atraso (e portanto ainda em desenvolvimento) serem atingidos por geada e/ou neve.