A Semana Macro (30/03) – Enfim, Medidas Anunciadas

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Mundo: Covid-19 seguiu avançando, e o impacto econômico promete ser forte.

Os números totais de casos e mortes confirmadas no mundo mais do que dobraram na semana, para 720 mil e 34 mil respectivamente. Neste sentido, o destaque ficou nos EUA onde os casos saltaram 220% (140 mil) e as mortes 340% (2.5mil). O estado mais afetado tem sido Nova Iorque, concentrando pouco mais de 40% dos casos. No Brasil, casos e mortes saltaram respectivamente 120% (4.3 mil) e 300% (136). As políticas de lockdown seguiram avançando, com boa parte da população mundial sofrendo algum tipo de restrição. A Índia, por exemplo, anunciou regras severas de quarentena para seus 1.3 bilhões de habitantes, mesmo com apenas mil casos confirmados até a noite de domingo.

Gráfico 1: Evolução no número total de casos de Covid-19 (escala logarítmica)

Fonte: Johns Hopkins University e Versa Asset

A “boa” notícia talvez tenha ficado nos países até agora mais atingidos, Itália e Espanha. Por lá, os dados oficiais sugerem que o número de mortes diárias estaria próximo do pico, ou até desacelerando levemente.

Gráfico 2: Mortes por dia na Espanha e Itália

Fonte: Johns Hopkins University e Versa Asset

Nos EUA, os indicadores econômicos começam a mostrar a real dimensão da crise econômica. O número de pedidos de seguro-desemprego (dado semanal) saltou de forma sem precedentes para 3.3 milhões. O pior resultado histórico até então tinha sido de 700 mil em 1982. Ou seja, em apenas uma semana, a taxa de desemprego deve ter subido algo como 2%.  Em resposta a crise, o país também aprovou um pacote econômico também sem precedentes. Serão U$2 trilhões de auxílio (10% do PIB), incluindo vouchers para a população e créditos garantidos a pequenas e grandes empresas.

Gráfico 3: Pedidos de seguro desemprego nos EUA (milhares por semana)

Fonte: U.S. Employment and Training Administration e Versa Asset

Brasil: Medidas econômicas finalmente sendo anunciadas

Somando tudo “a valor de face”, o pacote econômico representaria medidas da ordem de R$1.8tri, ou 24.5% do PIB. No entanto, a maior parte desse valor não pode ser interpretado como dinheiro “novo” entrando na economia. Por exemplo, boa parte desse dinheiro (R$1.2 tri) se refere a medidas de injeção de liquidez no setor bancário, sem que isso se traduza necessariamente em novos empréstimos. Se consideramos apenas as medidas que possuem impacto fiscal direto nas contas do governo federal, o valor seria algo em torno de R$150 bilhões, ou 2% do PIB. Ao incluirmos outras medidas com impacto indireto (como condições mais favoráveis de crédito para estados e municípios, adiantamentos de gastos e postergação de impostos, etc), o valor do pacote ficaria em algo como R$340 bilhões ou 4.6% do PIB. Este nos parece o número mais justo para algum tipo de comparação com outros países.

Nas área de proteção direta ao emprego e renda, uma das medidas mais relevantes do pacote foi a apelidada de “coronavoucher”, um auxílio de R$600 reais mensais a trabalhadores informais, autônomos e desempregados, com um custo aproximado de R$60 bilhões em 3 meses, segundo estimativas da Instituição Fiscal Independente. Outra medida relevante foi a liberação do seguro-desemprego como forma de compensação para aqueles trabalhadores que tiverem seu salário reduzido, com um impacto em 3 meses de aproximadamente R$45bilhões. Por último, o Banco Central e o Tesouro anunciaram um programa R$40 bilhões para financiamento da folha salarial de pequenas e médias empresas. Ou seja, não nos parecem medidas tímidas de proteção social se comparadas ao que tem sido anunciado pelo mundo, principalmente em países emergentes. Tomemos como exemplo o próprio caso dos EUA, onde o auxílio direto será de US$1,200 por pessoa, comparado a R$1,800 aqui (R$600 X 3 meses). Para os EUA, isso equivale a 2% da renda per capita anual (US$56mil), enquanto no Brasil seria 5% da nossa renda (R$35mil).

Do lado da política monetária, o que mais chamou nossa a atenção foi a PEC permitindo ao Banco Central comprar ativos financeiros (por exemplo, créditos de empresas privadas) com emissão de moeda. Ou seja, o famoso quantitative easing (QE) dos bancos centrais de países ricos. O ponto dessa medida seria dar instrumentos para que o BC possa dar liquidez diretamente as empresas, sem precisar passar pelos bancos tradicionais. Ou seja, em um momento de crise mais profunda, haveria como garantir que o dinheiro chegasse realmente as empresas em dificuldade. Vemos esta medida como muito mais produtiva para estimular a economia no atual contexto do que cortes adicionais na Selic. Continuamos céticos em relação a novos cortes de juros daqui em diante.

Em suma, acreditamos que as medidas anunciadas foram na direção correta e terão impacto relevante. Mesmo assim, dificilmente fugiremos de uma das recessões mais intensas da história. Em 2015, o PIB caiu 3.5%, e não nos parece difícil imaginar números piores este ano. Qualquer número por enquanto é chute. A boa notícia? A recuperação provavelmente será bem mais rápida do que as das crises anteriores.