A Semana Macro (20/01) – Crescimento: Otimismo Global, Pessimismo Local

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Mais uma semana onde o ambiente global seguiu melhorando, mas as dúvidas quanto à retomada econômica pesaram internamente. No exterior, a já esperada assinatura do acordo comercial EUA-China animou, mas a novidade ficou com os números mais fortes de atividade. De fato, enquanto nos EUA as primeiras sondagens industriais de janeiro foram bastante positivas, na China os dados do PIB apontam para estabilização do crescimento, após longo período de desaceleração. No Brasil, os dados de varejo e serviços vieram na contramão, sugerindo PIB mais fraco no curto prazo e mais espaço para cortes de juros. No entanto, seguimos otimistas com a recuperação no médio prazo.

 

Mundo: Otimismo com o Crescimento Global

O acordo comercial entre EUA e China foi finalmente assinado. Como já era esperado, o governo chinês se comprometeu a aumentar suas importações em US$200 bilhões. No entanto, diminuições de tarifas ficaram para uma segunda fase do acordo. A julgar pelas declarações do presidente Trump, essa segunda etapa não deve sair do papel antes das eleições americanas de novembro. Neste sentido, o acordo pode ser entendido muito mais como uma interrupção da escalada protecionista do que propriamente como a reversão das barreiras erguidas nos últimos dois anos. Ainda assim, o acordo tem grande valor para reduzir as incertezas e melhorar o ambiente de investimentos no mundo em 2020.

A atividade econômica nos EUA brilhou. As primeiras sondagens de atividade industrial de janeiro surpreenderam os economistas e apontam forte recuperação para o setor no início do ano. O destaque ficou com o Philadelphia Fed Index, que avançou para 17 pontos (valores acima de 0 implicam expansão da indústria), contra expectativa de 3.8. O Empire Manufacturing Index, por sua vez, marcou 4.8 pontos, valor mais alto desde junho. De posse de tais dados, nossa projeção em tempo real para o PIB do 1º trimestre ganhou corpo e aponta crescimento de 1.9%. Vale notar que esse crescimento configuraria uma aceleração em relação aos 1.7% esperados para o 4º tri de 2019.

Gráfico 1: Índices de atividade industrial nos EUA

Fonte: Bloomberg e Versa Asset

Que fique certo, há chances de que a interrupção anunciada na produção da Boeing impacte os números da indústria no 1º trimestre. A mensagem, mesmo assim, é de que os EUA não parecem estarem próximos de uma recessão, o que é positivo não somente pelo lado da lucratividade das empresas, mas por diminuir o risco de radicalização nas eleições de novembro.

Gráfico 2: Projeção em tempo real do PIB do 1º tri (QoQ anualizado) nos EUA

Fonte: Versa Asset

E o crescimento da China parece ter se estabilizado. O PIB do 4º tri marcou avanço de 6.0% YoY, mesmo número registrado no 3º tri. Como podemos ver no gráfico abaixo, tal estabilização acontece após longo período de desaceleração, e intensificado nos últimos dois anos pela guerra comercial. Por outro lado, o crescimento da produção industrial em dezembro surpreendeu positivamente os economistas, avançando 6.9% YoY. Esses números somados aos avanços recentes nas negociações comerciais reforçam a expectativa de que a economia chinesa seguirá crescendo próximo de 6.0% este ano. Mais uma notícia positiva para a economia mundial. A propósito, o Itaú elevou sua projeção para o crescimento global em 2020 para 3.2%, ante 3.0% em 2019.

Gráfico 3: Crescimento do PIB e da produção industrial (YoY%) na China

Fonte: Bloomberg e Versa Asset

Brasil: crescimento mais baixo no curto prazo?

Os números do varejo e serviços não animaram e corroboram um cenário de atividade mais fraca no curto prazo, já indicado pelos números da indústria na semana anterior. O destaque ficou com as vendas do varejo de novembro, que subiram “apenas” 0.4% em relação a outubro (MoM) no conceito restrito, e caíram 0.5% no conceito ampliado (que inclui vendas de veículos e material de construção). O problema é que, por conta da Black Friday, esperava-se números muito mais fortes. O volume de serviços, por sua vez, recuou 0.1% MoM, também abaixo das expectativas.

Gráfico 4: Vendas do varejo (número índice) no Brasil

Fonte: IBGE e Versa Asset

Por outro lado, a leitura positiva do IBC-Br, que avançou 0.2% no mês, deve ser vista com ressalvas. Isso porque os principais insumos utilizados para a construção do índice pelo Banco Central são justamente as pesquisas de varejo, indústria e serviços do IBGE (que decepcionaram). Portanto, a leve alta do indicador parece estar mais ligada a fatores técnicos (metodologia de ajuste sazonal etc.) do que propriamente a dados mais robustos de atividade. Nossas projeções de PIB em tempo real, por exemplo, ficaram praticamente estáveis em relação a semana passada, e apontam crescimento de 0.6% no 4º trimestre.

Gráfico 5: Projeção em tempo real do PIB do 4º tri (QoQ) no Brasil

Fonte: Versa Asset

Mesmo assim, seguimos otimistas com a recuperação em 2020. Por mais que os indicadores recentes de atividade tenham decepcionado, o cenário para este ano continua promissor em nossa visão. As condições econômicas mais concretas continuam favorecendo uma recuperação consistente do crescimento. São elas: 1)juros baixos e inflação controlada, 2)muita capacidade ociosa na economia para ser preenchida (ou seja, desemprego ainda alto) e 3) relativo alinhamento dos poderes executivo e legislativo em uma agenda de reformas econômicas liberais.

O dólar voltou a subir… Pela segunda semana consecutiva, o real foi uma das moedas emergentes que mais perdeu valor em relação ao dólar (gráfico abaixo). Do lado econômico, justificar tal movimento pela preocupação com os dados de atividade parece ser forçar um pouco a barra. Afinal, a bolsa deveria refletir a mesma preocupação, mas fechou a semana em alta. Uma hipótese para conciliar essa divergência seria a de que o investidor estrangeiro continua mais cauteloso que o investidor local (restaria saber porque a cautela aumentou na virada do ano).

Gráfico 6: Apreciação(+)/depreciação(-) das moedas emergentes em 2020

Fonte: Bloomberg e Versa Asset

… mas não deve atrapalhar na queda dos juros.  De fato, podemos dizer que as condições para cortes adicionais na Selic se tornaram mais favoráveis nas últimas semanas. Em primeiro lugar, o ambiente global seguiu melhorando (mais crescimento, e acordo EUA-China). Em segundo lugar, o choque na inflação de alimentos tem se dissipado com a queda do preço da carne. Por último, a recuperação da atividade tem ficado um pouco aquém do esperado. Por ora, acreditamos em mais um corte de 0.25% em fevereiro.

Gráfico 7: Preço da carne bovina (traseiro) no atacado (R$/Kg)

Fonte: CEPEA-ESALQ e Versa Asset

O que devemos ficar de olho nessa semana?

Lá fora, os destaques ficarão na Europa. Na quinta-feira o Banco Central Europeu (BCE) terá sua reunião de política monetária e na sexta-feira as primeiras sondagens de atividade da região (PMIs) referentes a janeiro serão publicadas. Entre terça e sexta-feira, também teremos o Fórum Econômico Mundial de Davos.

No Brasil, atenção na atividade e inflação. As primeiras sondagens de confiança de janeiro serão publicadas (indústria na quarta e do consumidor na sexta-feira) e a criação de empregos formais (Caged) de dezembro será divulgada ainda sem dia definido. Na inflação, o IPCA-15 de janeiro será publicado na quinta-feira e deve começar a mostrar queda na inflação de alimentos.

 

 

 

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