A Semana Macro (14/09) – Revisando o PIB (de Novo)

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Com os dados mais fortes de atividade, revisamos nossas projeções de PIB de 2020 e 2021 para -4.3% e +4.5% respectivamente. A queda recente dos óbitos e melhora dos índices de mobilidade devem começar a agir inclusive na recuperação do setor de serviços, onde a retomada tem sido mais lenta.

Seguindo nossa discussão da semana passada, os dados divulgados continuaram a corroborar forte recuperação da atividade no curto prazo. O destaque ficou com as vendas do varejo de julho, que avançaram +5.2% em relação ao mês anterior, bem acima das expectativas dos economistas (+1.3%). As vendas no conceito ampliado (que incluem também veículos e material de construção) subiram ainda mais: +7.2%. De fato, as vendas já se encontram acima dos níveis pré-crise em boa parte das categorias pesquisadas. Vendas tão fortes são um reflexo de diversos fatores, que incluem demanda reprimida, substituição de consumo pelo isolamento e o aumento da renda total disponível pelo auxílio emergencial. Por outro lado, o setor de serviços voltou a decepcionar, com uma crescimento em julho de +2.6% em relação ao mês anterior, abaixo das expectativas (+3.5%).

Gráfico 1: Indicadores de atividade do IBGE (dados até julho)

Fonte: IBGE e Versa Asset

A lenta recuperação dos serviços não deveria estranhar uma vez que o setor é o mais afetado pelo isolamento social. No entanto, os dados mais recentes parecem apontar para uma sensível melhora da mobilidade, em linha com a queda dos números dos óbitos na maioria das regiões. Por exemplo, os números de tráfego em rodovias apontaram para uma forte alta na movimentação de veículos leves em agosto.

Gráfico 2: Índice de tráfego em rodovias pedagiadas (dados até agosto)

Fonte: ABCR e Versa Asset

Na mesma linha, os dados do Google para mobilidade (incluindo idas ao trabalho, lugares de lazer, compras, etc) também tem apontando melhora consistente nas últimas semanas. Seria de se esperar, portanto, números mais fortes para o setor de serviços no curto prazo.

Gráfico 3: Índice de mobilidade social (dados até 8 de setembro)

Fonte: Google e Versa Asset

Com tudo isto na conta, nosso modelo de projeção de PIB em tempo real (tracking) aponta para um forte crescimento de +9% no 3º trimestre, depois da queda de -9.7% no 2º tri. Sendo um pouco conservadores, esperamos um crescimento de +8.5% pela incerteza natural dos números de serviços para o curto prazo (normalmente mais difíceis de medir nestes modelos). Para o 4º trimestre, enxergamos uma retomada mais consistente do setor, bem como dos investimentos, ajudando a compensar a provável “ressaca” do varejo. Neste caso, um crescimento de +3% no 4º tri nos parece fazer sentido. Com tudo isso, revisamos nosso PIB esperado para 2020 de uma queda de -4.9% para -4.3%.

Na verdade, a parte mais interessante desta história fica para 2021. Com números mais fortes agora no 2º semestre, o PIB iniciará o próximo ano em uma base relativa bem mais elevada do que se imaginava, facilitando o crescimento em 2021. No jargão econômico isto se chama carrego estatístico. Quer dizer que se nossos números de 2020 estiverem corretos, o PIB em 2021 cresceria +3.7% mesmo se os dados trimestrais andassem “de lado” (ou seja, sem crescimento na margem) ao longo daquele ano. Como o consenso dos economistas no relatório Focus ainda está em +3.5% para o crescimento de 2021, acreditamos que ainda há espaço significativo para revisões de alta nestas expectativas. Nossa projeção agora é de um crescimento de +4.5% (4% anteriormente), vale notar, ainda com algum viés de alta.

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