A Semana Macro (13/10) – Mais Impostos?

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Diante do crescente receio dos mercados com o cenário fiscal, o sistema político parece ter começado a se mexer. A resposta de como as contas vão fechar ficou para depois das eleições. A impressão é que esta solução envolverá aumentos de impostos. Melhor assim do que nenhum ajuste. 

Em resposta ao crescente receio dos mercados com o futuro das contas públicas, o sistema político parece ter começado a se mexer. Lideranças do governo e do Congresso reiteraram seu compromisso com a responsabilidade fiscal e o teto de gastos. Menos claro, no entanto, é como a conta vai fechar visto que os planos de expandir o Bolsa Família ainda estão de pé. A resposta ficaria para dezembro, depois das eleições municipais. 

Restam, portanto, as especulações. A mais natural seria de que tal equacionamento sairá do bolso de alguém e não de um abracadabra contábil como havia sido aventado inicialmente no episódio desastrado envolvendo precatórios. Boa notícia. Mas do bolso de quem, afinal? Olhando pelo lado dos gastos, sobram poucas alternativas além daquelas rechaçadas publicamente pelo Presidente, como foi o caso das propostas de congelamento de aposentadorias e fim do abono salarial. Vale lembrar que o congelamento dos salário do servidores públicos até 2021 foi aprovado em maio e portanto já está incluso nesta conta que não fecha. Entre outras medidas de impacto significativo, restaria apenas a possibilidade de cortes de salários com redução proporcional de carga horária dos servidores públicos. O governo estaria disposto a comprar esta briga?

A “solução” parece pender portanto para o lado da receita, seja com aumentos de impostos ou fim de benefícios tributários. Muito pode mudar até lá, mas ficamos com a impressão de que estes serão propostos como uma “ponte” até que cortes nas despesas sejam implementados em um segundo momento.

Naturalmente uma saída deste tipo ensejaria dúvidas sobre a real disposição em cortar gastos lá na frente. No entanto, não nos parece claro que o mercado rejeitaria este tipo de medida. Hoje o principal risco a pesar nos preços é o de insolvência fiscal; e não o de que aumentos de impostos possam prejudicar a lucratividade das empresas listadas. De fato, a maioria das alternativas aventadas até agora trata de aumento de tributos para pessoas físicas ou para empresas que transitam pela informalidade. Fim das deduções e descontos de IRPF, tributação de dividendos ou recriação da CPMF se encaixam nessas categorias. 

Nosso otimismo para os próximos anos se alicerça na possibilidade de o Brasil surfar uma onda que nunca surfou antes: a de juros baixos. Com o aprofundamento de tendências seculares que favorecem inflação e juros baixos no mundo, bastaria termos uma situação fiscal minimamente arrumada por aqui. Não há dúvidas de que o peso dos impostos e de um estado agigantado são entraves para o crescimento. No entanto, o problema mais imediato é o da solvência fiscal. Sem isso não haverá queda sustentável dos juros. Parece difícil acreditar que um governo com baixa capacidade de articulação promova um ajuste fiscal apenas pelo lado mais difícil, o das despesas. Mais vale um ajuste fiscal com aumento de impostos do que nenhum ajuste. 

A atividade segue animando

O destaque ficou com as vendas do varejo de agosto que cresceram +3.4% em relação a julho e já estão 5% acima dos níveis pré-covid de fevereiro. De lá pra cá, as maiores altas estão nas vendas de móveis e eletrodomésticos (+18.8%) e de materiais de construção (+14.4%). A produção de veículos de setembro também veio forte, com alta de +10% ante agosto ajustada pela sazonalidade, apenas 7% abaixo de fevereiro.

https://twitter.com/FundoVersa/status/1314174022372950016?s=20

Seguimos otimistas com a recuperação no curto prazo. Esperamos uma alta de +9.0%, ou um pouco mais, para o PIB do 3o tri em relação ao 2o tri. Se até agora a recuperação tem sido liderada pela indústria e o varejo, daqui em diante esperamos números mais fortes no setor de serviços. Estes seriam impulsionados pela melhora da pandemia e consequente aumento da mobilidade. Para este ano projetamos queda de -4.3% no PiB e uma alta em torno de +4,5% para o ano que vem, se o cenário fiscal não atrapalhar.

Inflação em alta, mas ainda não preocupa

O IPCA de setembro ficou acima das expectativas, registrando uma alta de +0.64% no mês e acelerando para +3.14% em doze meses. Diferentemente das leituras anteriores, a alta foi relativamente espalhada entre os grupos, contaminando inclusive as medidas de núcleo e os índices de difusão. Além de pressões de custo no atacado causadas pela alta do dólar, reajustes mais generalizados poderiam estar associados a normalização da demanda com o aumento recente da mobilidade. Com as incertezas fiscais em primeiro plano, a alta do IPCA não parece preocupar por enquanto, nem o mercado, nem o BC.

https://twitter.com/FundoVersa/status/1314536147209551874?s=20

Democratas lideram nos EUA

Continuaram crescendo as chances de uma vitória democrata nas eleições americanas. A vantagem de Biden nas pesquisas mais recentes têm girado em torno de 10 p.p, enquanto os mercados de apostas precificam 65% de probabilidade para sua vitória. O famoso site de previsões FiveThirtyEight vai mais além, atribuindo 85% de probabilidade. Enquanto a vantagem dos democratas também é grande para o controle da Câmara, é no Senado onde ainda há mais dúvidas e, portanto, este poderia ser visto como um “fiel da balança”. 

Gráfico 1: Intenções de votos nos EUA por candidato (%)

https://www.realclearpolitics.com/epolls/2020/president/us/general_election_trump_vs_biden-6247.html

De fato, uma tríplice vitória democrata (presidência + câmara + senado) aumentaria as chances de que que saiam do papel nos próximos anos políticas de expansão de gastos, regulação e aumento de impostos, o que deveria ser ruim para os mercados. Por outro lado, a crescente vantagem de Biden nas pesquisas diminuiria as chances de uma eleição muito apertada onde os resultados fossem posteriormente questionados na justiça. Troca-se um risco imediato por um outro menos claro a frente.

Some a isso a retomada das discussões sobre um novo pacote de estímulos por lá, e temos um roteiro para a melhora dos mercados na ultima semana. 



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