A Semana Macro (13/04) – PIB e Inflação em Baixa; o BC Desempinando a Curva

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Mundo: epidemia “sob controle” e mais estímulos nos EUA

O Covid-19 continuou avançando no mundo, com sinais de estabilização mais claros em alguns países na Europa. De fato, o número de mortes diárias na Espanha e Itália parece ter se estabilizado na casa das ~500 mortes por dia, enquanto o ritmo no Reino Unido saltou para algo próximo de 900 . Nos EUA, o número de mortes diárias seguiu em alta na semana, atingindo a casa de 2,000 nos últimos dias. Interessante notar, no entanto, que as estatísticas de número de novas internações, principalmente em Nova Iorque, tem caído consistentemente na última semana, o que deveria indicar alguma queda nas mortes nos próximos dias. Esta parece ter sido a logica a explicar uma parte da melhora dos mercados na semana.

Gráfico 1: Mortes diárias por Covid-19 e linhas de tendência

Fonte: Johns Hopkins University e Versa Asset

Na economia, as estimativas de crescimento continuaram em baixa. Por exemplo , o banco JP Morgan estima uma queda de 40% no PIB dos EUA do 2o tri em termos anualizados, o que equivale a um tombo de 12% no trimestre. A taxa de desemprego , por sua vez, saltaria para 20% já em Abril. De fato, só na última semana o número de novos pedidos de seguro de desemprego marcou 6.6 milhões, acumulando um total de 16.8 milhões nas últimas três semanas.

Gráfico 2: Pedidos iniciais de aux. desemprego (semanal; milhares)

Fonte: U.S. Employment and Training Administration e Versa Asset

As políticas de estímulo também seguiram, com o Fed anunciando novas linhas de empréstimo na ordem de US$2.3 trilhões, direcionados a pequenas e médias empresas. Adicionalmente, houve sinalização de que os programas de suporte de dívidas high yield (mais arriscadas) também poderão aumentar. Ou seja, até agora todas as medidas anunciadas nos EUA atingem um valor de aproximadamente US$ 6 trilhões, ou 30% do PIB americano. De longe, o programa mais agressivo de estímulos da história do país.

Brasil: PIB e inflação em baixa; o BC “desempinando” a curva

A boa notícia é de que a epidemia no Brasil seguiu avançando em ritmo mais lento do que nos EUA e na Europa, com o número de mortes relativamente “baixo”. 27 dias passados da primeira morte reportada, o número total de fatalidades atingiu 1,223. Como base de comparação, a Alemanha, um dos países relativamente menos atingidos na Europa, teve 1,444 mortes no seu 27º dia. No entanto, vale notar que as estatísticas brasileiras parecem estar relativamente sub-notificadas, principalmente no que se refere ao número de casos, devido a falta de testes. Como podemos ver no gráfico abaixo, a taxa de fatalidade da doença tem crescido constantemente no Brasil em relação ao resto do mundo, e já atinge 5.5% (taxa mediana nos 50 países mais atingidos é de 3.0%). Esta tendência sugere que o número de casos real no Brasil tem crescido a uma taxa superior a dos números oficiais.

Gráfico 3: Número de mortes por casos reportados (case fatality rate)

Fonte: Johns Hopkins University e Versa Asset

Na economia, mais alguns dados sugeriram o tamanho do tombo que vem por ai. O índice ABCR de tráfego de veículos leves nas rodovias acumulou queda de 23% em março ante fevereiro. No caso dos veículos pesados, a queda foi de “apenas” 4%, provavelmente segurada pelo transporte de bens básicos e alimentos. Para a produção e venda de veículos os números da Anfavea apontaram quedas de 20% e 40% respectivamente em relação a fevereiro. Por ora, não nos parece implausível que o PIB recue 10% ou mais no 2o trimestre. Neste sentido, por mais rápida que a recuperação seja dali em diante, não é difícil imaginar que a queda do PIB para o ano fique em pelo menos 5%. Hoje este é o nosso chute. Vale lembrar que qualquer número neste momento tem pouco significado para os mercados. O que importa é a letra na verdade. Veremos no segundo semestre uma recuperação em formato de “V”, de “U” de “J” invertido ou de “L” ? Ficamos com a letra V por enquanto.

Gráfico 4: Índice ABCR de fluxo em rodovias pedagiadas

Fonte: ABCR e Versa Asset

Na inflação, os dados do IPCA de março sugerem um cenário muito tranquilo por enquanto. O índice mensal ficou em 0.07%, abaixo das expectativas dos economistas (0.12%). O destaque de alta ficou nos alimentos (1.4%), provavelmente influenciado pela corrida inicial aos supermercados. No entanto, as medidas de núcleo, que tentam retirar o efeito de choques passageiros, mostram um cenário de inflação muito baixa neste início de ano. Ao controlar pela sazonalidade, a inflação no primeiro trimestre do ano rodou a 2.3% em termos anualizados, muito abaixo da meta oficial de 4.0%. Para os próximos meses, resta saber qual será o efeito líquido da quarentena e da alta do dólar nos preços. Vemos espaço para alguma alta moderada do IPCA para acasa dos 2.5%-3.0% no fim do ano, com baixa convicção, vale dizer.

Gráfico 5: Médias dos Núcleos do IPCA (ajustado sazon. e anualizado)

Fonte: IBGE e Versa Asset

Na política econômica, a PEC do “orçamento de guerra” foi aprovada na câmara e agora segue para o Senado. Neste sentido, nos chamou a atenção a inclusão de um artigo tratando da atuação do banco central na crise. No texto, o BC ficou autorizado a comprar títulos de dívida pública e privada. Para os títulos privados, a ideia seria prover liquidez as empresas em dificuldade. Nos títulos públicos, algumas declarações do presidente do BC na semana sugerem que a estratégia miraria a redução da inclinação da curva de juros. De fato, vimos ao longo dos últimos dois meses um forte processo de inclinação da curva (gráfico abaixo), refletindo a maior demanda por títulos com vencimentos curtos (visto como mais seguros) em detrimento dos mais longos (mais arriscados). Aparentemente, o Banco Central pretende comprar os títulos longos e ao mesmo tempo vender curtos, ajudando a reequilibrar o mercado em momentos de stress: uma operação conhecida como twist. Ou seja, não seria um programa de compras a la quantitative easing do Fed, onde a maior parte das compras é financiada sistematicamente com emissão de moeda.

Gráfico 6: Curva de juros no Brasil (% a.a por vencimento)

Fonte: Bloomberg e Versa Asset





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