A Semana Macro (08/03) – Aluno Nota C

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Seguimos construtivos com a recuperação econômica este ano, mas a percepção de risco pode seguir alta por algum tempo.

Costumamos dizer na Versa que o Brasil é um típico aluno nota C. Aquele que não se dedica na maior parte do curso, mas na véspera da prova dá seu jeito e passa de ano com a menor nota possível. A votação da PEC Emergencial na semana passada suscitou muita ansiedade nos mercados com a possibilidade de desfigurações do texto mas acabamos tirando um “B” no Senado. Em que pese algumas diluições, esta pode ser considerada a medida fiscal mais importante desde a reforma da previdência. Ao regulamentar os tais “gatilhos” de ajuste, a tarefa de cumprir o teto de gastos nos próximos anos ficará um pouco menos árdua. A principal medida de ajuste acionada pelos gatilhos será o congelamento dos salários dos servidores públicos. Esta pode ser mais importante do que parece. Além de seu impacto financeiro direto, cria-se certo alinhamento de incentivos. De agora em diante, servidores teriam interesse em pressionar governo e congresso para que implementem outras medidas estruturais de ajuste antes que seus salários sejam congelados pelos gatilhos.

Se devemos comemorar a PEC, por que o mercado vai tão mal? Juros longos, câmbio e bolsa, todos tem indicado alta dos prêmios de risco além do visto em outros países emergentes. Decerto, há razões  para explicar alguma cautela nos preços ultimamente. A primeira é a recente alta dos juros longos americanos. Tudo mais constante, isto significaria menos liquidez internacional para os emergentes. Uma segunda é obviamente o recrudescimento da pandemia e seu impacto econômico no curto prazo.

Figura 1: Performance de mercados emergentes este ano (%)

Fonte: Bloomberg

Ainda assim, é difícil explicar tamanho pessimismo embutido nos preços quando pensamos nestes fatores isoladamente. Uma coisa seria juros mais altos nos EUA e apenas isto. Outra diferente é quando a mesma alta esta associada a perspectivas de crescimento cada vez mais fortes no mundo, como é o caso desta vez.  Preços de commodities em alta, déficit em conta corrente quase zerado, e uma taxa de câmbio já muito depreciada deveriam servir – mas não tem servido-  de colchão aqui no Brasil para tal movimento. Da mesma forma, o impacto do agravamento da pandemia nos mercados merece ser relativizado. Na maioria dos países atingidos por uma segunda onda (vale dizer, tão ou mais severa do que a que estamos vendo no Brasil) a reação nos preços de ativos foi bem mais tímida.

Para nós, o que mais tem pesado nos mercados é a percepção de risco na figura do presidente. No trato da pandemia, a liderança dificilmente seria pior e a tensão política só tem aumentado. No campo econômico, o episódio da Petrobras suscita uma série de especulações sobre as prioridades do governo e a permanência da equipe econômica. Estaríamos a beira de uma guinada para o populismo econômico?

A analogia do aluno nota C nos parece útil neste ponto. Podemos ter todas as ressalvas com o sistema político brasileiro, mas não há nada que indique irracionalidade nem insensibilidade às pressões de mercado. Chegamos ao ponto de um partido marcadamente de esquerda ter implementado um forte ajuste ortodoxo em 2003 e 2015 quando os sinais de mercado foram claros nesta direção.

Talvez seja justo dizer que um governo de baixa competência tenha dificuldades em liderar uma agenda ambiciosa de reformas conforme as eleições se aproximem. No entanto, não iriamos muito além disso nas especulações. Seguimos construtivos com a recuperação econômica este ano, mas a percepção de risco pode seguir alta por algum tempo.







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