Sofrimento desnecessário

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Nos últimos meses adicionamos mais posições ao setor de utilities na carteira via Neoenergia e Energisa, duas empresas cuja principal fonte de resultado é a distribuição de energia elétrica. Acreditamos que as empresas de utilities têm condições de terem uma boa performance neste ano de 2022 pois o aumento de juros penalizou de forma demasiada as ações que tiveram, principalmente no caso de Neoenergia, entregas de projetos relevantes no período e aumentos tarifários expressivos. 

Além disso o risco de racionamento que abordamos na carta de outubro não existe mais. As condições dos reservatórios no Brasil melhoraram substancialmente desde outubro quando os reservatórios do Sudeste, o maior subsistema do pais, chegaram a ficar com menos de 20% da capacidade de armazenamento. Atualmente os reservatórios do Sudeste, estão com capacidade de armazenamento acima de 40%, sendo que ainda estamos na metade do período úmido. 

Fonte: Apresentação Encontro PLD – CCEE

O PLD (Preço de Liquidação das Diferenças – o preço da energia no mercado spot) está no mínimo permitido de R$55,7/MWh, ainda assim continuamos com a bandeira tarifária em patamar de escassez hídrica, que adiciona R$14,20 a cada 100kWh consumido pelos clientes, equivalente a um aumento tarifário de mais de 10%. Teoricamente a bandeira deveria ser verde, mas devido a determinação do CREG (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão – comitê criado para gerenciar a crise hídrica) ela deverá ficar em escassez hídrica até abril. Apesar de ainda existir uma conta a ser paga devido ao despacho de usinas térmicas desde o meio do ano passado, acreditamos que manter a bandeira no patamar atual seja um erro. 

A pressão sobre o orçamento familiar é gigantesca no momento atual com inflação de alimentos, combustível e energia altas, além da taxa Selic em 10,75% e com uma perspectiva de ser elevada acima de 12% para conter uma inflação advinda de fatores externos. Essa pressão tem feito o governo pensar em medidas populistas para dar um alívio no orçamento familiar. 

Mais fácil do que uma medida para reduzir os impostos na conta de luz, é sair da bandeira tarifária de escassez hídrica dado que o empréstimo às distribuidoras já está aprovado pelo governo. Considerando que a bandeira tarifária fosse a verde, em linha com o que indica o modelo, as contas de luz para o consumidor de varejo cairiam cerca de 10% na comparação mensal, dando um alívio exatamente quando a inflação está mais alta e quando a economia dá sinais de desaceleração.

O empréstimo que será feito às distribuidoras terá que ser pago nos próximos ajustes tarifários, porém ele parece mais barato do que medidas populistas que diminuam a arrecadação de impostos, mesmo que de forma “temporária”. E ainda, a redução do preço da energia deveria melhorar a situação econômica das famílias além de ajudar nos números de inflação.

A bandeira de escassez teve seu papel, dando um sinal de preço para que o consumo de energia diminuísse e pagando pelo acionamento das usinas térmicas, mas atualmente ela se tornou desnecessária. 

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