Indicadores Brasil
O destaque da semana foi o PIB do 2° tri de +0,4%, acima dos +0,2% esperados pelo mercado e do -0,1% projetado pelo IBC-Br. O propulsor da melhora foram os investimentos (+3,2%), enquanto o consumo continuou resiliente (+0,3%), os gastos do governo retraíram mais uma vez (-1,0%) e a balança comercial teve contribuição negativa com as exportações recuando -1,6% e as importações subindo +1,0%. Olhando o PIB pelo lado da oferta, a surpresa veio do setor industrial (+0,7%) com destaque para manufatura (+2%) e construção civil (+1,9%) enquanto o PIB das atividades extrativistas continua em contração (-3,8%) sob efeito de Brumadinho. O setor de serviços, por sua vez, continua em lenta expansão (+0,3%).
A componente mais volátil do PIB (pelo lado da demanda) é o investimento, cuja aceleração é imprescindível para a retomada da atividade. O sinal do 2o tri, junto à expansão do crédito, é encorajador. O bom desempenho da construção civil veio em linha com o otimismo das incorporadoras que temos notado. A atividade do setor deve continuar a aumentar uma vez que os lançamentos demoram de 6 a 12 meses para se tornarem canteiro de obras e as novas regras de financiamento imobiliário da Caixa ainda não impactaram o mercado.
O Credit Suisse revisou o PIB de 2019 para baixo (1,2% vs 1,7%) mas continua apostando que a segunda metade do ano será mais forte que o previsto pelo FOCUS (0,6% vs 0,3%) em função do dissipamento dos choques negativos (Brumadinho, redução do comércio internacional e das exportações para a Argentina) que a economia sofreu nos últimos trimestres. Já o JP Morgan revisou a estimativa do PIB para cima (0,8% vs 0,7%) mas espera que o segundo semestre seja desafiador com a tensão globada causada pela guerra comercial entre EUA e China, a deterioração da Argentina após as primárias, e os índices de confiança brasileiros mais fracos do que esperava.
A FGV divulgou o IGP-M com deflação de -0,67% em agosto (+4,95% a/a), em linha com a fraqueza da inflação mostrada pelos outros indicadores.
No relatório FOCUS divulgado hoje o mercado aumentou o PIB 2019 de 0,82% para 0,87% e reduziu a inflação (IPCA) de 3,65% para 3,65%. Os números para 2020 ficaram estáveis.
O relatório de crédito do Banco Central mostrou crecimento em julho estável a 5% a/a e a continuação da expansão dos bancos privados (+13% a/a) em compensação ao encolhimento das concessões pelos bancos públicos (-2,2% a/a). A taxa de juros dos empréstimos livres (crédito pessoal, para empresas, cartão de crédito, etc) caiu -0,2% indicando que os cortes da SELIC começaram a impactar o crédito.
A inadimplência maior de 90 dias dessas linhas (livres) subiu +0,2% para 4%, e a inadimplência geral subiu 0,1% ficando em 2,8% nos bancos públicos e 3,5% nos privados, patamares baixos em relação ao histórico. O crédito bancário em relação ao PIB decresceu -0,3% para 46,9% mas a originação (diária) cresceu +14%. Somando à inadimplência controlada e os juros em queda, o crédito total deve continuar em recuperação, estimulando a economia apesar da contração dos bancos públicos
Intenção de Consumo das Famílias (ICF) medida pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) subiu 1,8% m/m em agosto após cair por 5 meses consecutivos, corroborando a melhora na confiança do consumidor indicada pela FGV. Apesar da alta o ICF continua abaixo de 100, indicando insatisfação.
O desemprego calculado pelo IBGE através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) mostrou queda de 0,1% na taxa de desocupação para 11,8%, melhor que os 11,9% esperados pelo mercado e os 12% do mês anterior. Apesar da supresa positiva o crescimento do emprego continua concentrado no trabalho informal enquanto o emprego com carteira assinada registrou queda e o crescimento real da massa salarial desacelerou. A taxa de subutilização da força de trabalho caiu -0,4% em relação ao último trimestre para 24,6% e continua próximo as máximas históricas.
A ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras) divulgou o lançamento de 16.298 imóveis em julho, segundo maior número da série histórica (desde 2014). 77% dos lançamentos foram Minha Casa Minha Vida. No primerio semestre os lançamentos totais cresceram +10,1% e as vendas líquidas de distrato +10,4%. A queda de -33% nos distratos foi o maior responsável pela melhora nas vendas líquidas. As vendas brutas caíram -0,6% em relação ao primeiro semestre de 2018. As vendas-líquidas do segmento de médio-alto padrão (MAP) estão crescendo +16,3% nos últimos 12 meses enquanto as vendas-líquidas do Minha Casa Minha Vida desaceleraram para +4,9%. Nos últimos três anos houve expressiva entrega de empreendimentos MAP lançados em 2012-2014 e o volume total de lançamentos foi sustentato pelo MCMV. Desde 2018 os lançamentos de médio-alto padrão voltaram a crescer e hoje correspodem a 25% do volume total (e 30% do volume de vendas).
Gostamos de olhar os lançamentos menos as entregas dos últimos 12 meses como um indicador da atividade de incorporação. Nesse período foram lançadas 104.546 unidades (+37% vs 2014) e entregues 78.347 (-54% vs 2014), deixando saldo positivo de 26.199 unidades (vs -95.386 em 14), o que indica continuação da expansão do setor.
O segmento do Minha Casa Minha Vida, por outro lado, tem enfretando o contigenciamento dos gastos públicos. Este ano foram liberados R$ 3,2bi dos R$ 5,1bi programados e o saldo depende do desbloqueio do orçamento. Para 2020 o governo estuda retirar o programa do orçamento, o que impactaria as construtoras dependentes do programa.
Indicadores EUA
O índice de confiança do consumidor divulgado pelo Conference Board veio acima do esperado (135 vs 129) e continua nos patamares mais altos da história, em linha com os números fortes de consumo da primeira metade do ano. A melhora veio do índice da situação presente que subiu 6,3 pontos para 177,2 enquanto o índice de expectativas cedeu 5,2 pontos para 107. Números acima de 100 indicam otimismo.
A segunda divulgação do PIB do 2°T veio em linha com as estimativas e -0,1% menor que a primeira prévia. O deflator do PIB (Core PCE) do trimestre, medida de inflação monitorada pelo FED, foi revisado para baixo (1,7% vs 1,8% anterior) enquanto o número de julho veio 1,6%. Apesar das variações mensais não definirem a política monetária do FED, o número consistentemente abaixo da meta (2%) abre o caminho para novos cortes nos juros americanos.
Os gastos reais dos consumidores (real personal spending) cresceu 0,4% m/m em julho continuando a forte tendência dos últimos meses e dando o tom para um terceiro trimestre impulsionado mais uma vez pelo consumo das famílias.
Nesta semana serão divulgados os índices de condições da indústria e serviços (ISM) e a geração de empregos de agosto.
Indicadores União Européia
Na contra-mão da pesquisa IFO divulgada na semana passada, os dados divulgados pelo Comitê Europeu mostraram uma melhora no sentimento econômico da Alemanha e da Espanha, enquanto ficou estável para a França e teve ligeira queda para a Itália. Apesar do PIB da zona do Euro ter desacelerado de 2,8% em 2017 para 1,2% nos últimos trimestres, o desemprego continua em queda, mas em ritmo menor. As vendas no varejo em julho na Alemanha caíram -2,2% m/m revertendo a alta de 3% em junho. Apesar da fraqueza o número é volátil e as vendas no varejo alemãs continua expandindo alinhada à confiança do consumidor, que continua elevada.
Indicadores China
O lucro das indústrias chinesas com vendas anuais maiores que US$ 2,8 milhões voltou a subir em julho +2,6% a/a após cair -3,1% a/a no mês anterior. A pesquisa indica que a recuperação foi espalhada apesar dos setores automotivo, de refino de petróleo e maquinário elétrico continuarem em queda (menor) enquanto os produtores de bens de consumo e intermediários expandiram os lucros.
O PMI oficial do setor industrial veio 49,5 e ligeiramente abaixo do esperado (49,6), em território contracionista (<50) pelo 4° mês consecutivo. O índice caiu junto às componentes de entregas e novas ordens enquanto as novas ordens para exportação subiram pelo segundo mês consecutivo, mas continua abaixo de 50. Já a componente de emprego caiu para 46,9, menor nível desde fevereiro de 2009. Do outro lado o PMI de serviços subiu 0,1 para 53,8 com números bons empresas de telecom, internet e software. O sub-índice do setor de construção surpreendeu subindo 3 pontos para 61,2. O PMI Composto, junção do industrial e de serviços, caiu ligeiramente de 53,1 para 53,0.
O PMI calculado pela consultoria Markit, feito apenas com as empresas privadas, veio na contra-mão do oficial e expandiu 0,5 para 50,4 em agosto. Os sub-índices de entregas e emprego subiram enquanto o índice de novas ordens para o mercado doméstico e exportação caíram. A fraqueza no sub-índice de novas ordens tanto no PMI oficial quanto no Markit indicam o enfraquecimento da atividade chinesa nos próximos trimestres.
Commodities
A semana foi morna para as commodities com o índice geral (CRB) recuperando a perda da semana passada e ficando estável no ano. O destaque foi a alta no Nickel após a Indonésia, um dos maiores produtores no mundo, anunciar o banimento das exportações a partir de dezembro, além do acidente ambiental em uma mina na Papua Nova Guiné que poderá ser desativada temporariamente. O movimento da Indonésia é uma resposta à restrição da importação de aço inoxidável (combinaçã de aço e nickel) pela China, maior cliente do nickel indonésio. O banimento das exportações, programado inicialmente para 2022, tem a intenção de aumentar o processamento de nickel no país.
Nas agrícolas o algodão recuperou parte da perda de -4% da semana passada mas continua em queda acentuada no ano. O ouro ficou estável, assim como o Real, apesar do dólar ter valorizado +1% contra as principais moedas do mundo. O minério de ferro ficou mais uma semana no patamar de 75 usd/ton (futuro de 6 meses), enquanto o aço na China continuou a escorregar devagar.
Discussões de Investimentos
Fizemos duas reuniões macro de destaque essa semana. A primeira foi com o Andrew Sheets, estrategista global do Morgan Stanley que está cauteloso com ações. Andrew acredita que o ciclo de expansão nos EUA está próximo ao fim, em linha com a desaceleração global apontada pelos PMIs. Andrew está cauteloso com as ações americanas pois vê as empresas alavancadas e negociando a múltiplos altos apesar dos lucros terem parado de crescer. Andrew argumentou que a inflação parece baixa mas desalavancagem operacional das empresas, que divulgaram crescimento de receita e lucro estável, indica que estão sofrendo pressão de custos. Apontou também que o desemprego muito baixo costuma antecipar as pioras na economia, o que pode acontecer após a implementação da nova rodada de tarifas do Trump. Andrew argumentou que as tarifas implementadas até hoje incidiram sobre os custos dos produtores e não os produtos finais, por isso não afetaram a demanda. Já as novas tarifas incidirão sobre os bens de consumo, afetando a demanda final, podendo servir de estopim para começarem as demissões. Apesar do discurso pessimista Andrew não vê uma crise financeira se formando e acredita que no pior cenário o S&P pode atingir 2400, queda de -17% em relação aos patamares atuais
A outra reunião foi com o Carlos Kawall, economista chefe do Banco Safra, que compartilhou uma visão construtiva para a economia brasileira. Carlos pontuou a melhora na trajetória da dívida/PIB brasileira após a aprovação da reforma da previdência e a queda nos juros. Mencionou também que a ausência de pressões inflacionárias no Brasil e no mundo abrem espaço para novas quedas nos juros por aqui.
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