A lição que o setor corporativo americano pode aprender com a BRF.

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De acordo um artigo recente do Robert Kaplan, Presidente Federal Reserve Bank of Dallas, grande parte do aumento do endividamento corporativo americano desde a crise de 2008 foi usado para fazer recompra de ações, pagar dividendos e executar fusões e aquisições. A maior parte desse crescimento de dívida foi emitida somente 1 nível acima do “selo de bom pagador”.

Fonte: Dallas FED

Quando escrevemos sobre o endividamento corporativo dos EUA no artigo Bull Market Não Morre de Velhice, não endereçamos a qualidade desse crédito nem seu uso final. Não teríamos motivos, inclusive, para questionar o aumento do endividamento corporativo americano se o mesmo fosse de alta qualidade e ligado a um aumento saudável do investimento corporativo diante de uma economia crescente e condições financeiras estáveis.

Mas é o caso? O artigo nos lembrou uma noticia recente sobre a BRF (empresa dona das marcas Sadia e Perdigão), que amargou um prejuízo de R$200 milhões com uma operação que buscava manter a exposição da companhia ao preço de suas próprias ações quando a operação Carne Fraca obrigou a empresa a vender ações em tesouraria (fruto de programas de recompra de ações) para fazer caixa.

A recompra de ações deveria ser usada por empresas somente para: (1) fazer frente à programas de stock options de executivos; (2) melhorar a estrutura de capital em momentos de excesso de liquidez (quando a companhia tem mais caixa que precisa); ou (3) aproveitar um preço muito descontado da ação.

É difícil argumentar que as empresas americanas estão melhorando suas estruturas de capital, dado o aumento do endividamento/PIB. Também é difícil argumentar que houve tamanho vencimento de stock options para justificar tanta dívida para financiar recompra. E após uma década de recuperação econômica e do mercado acionário americano, também é difícil dizer que as empresas estão aproveitando preços descontados de suas ações. Mas se Robert estiver certo, o setor corporativo americano pode estar se jogando em uma situação parecida com a da BRF. Concordamos com ele que, mesmo que isso não cause uma crise, pode agravar eventuais problemas econômicos que possam surgir pela frente.

Qual é a sua opinião? Dá para ignorar a escalada do endividamento corporativo americano?